✦ A Canção que Acalma – Capítulo 24

Nos subterrâneos apressados da cidade, onde os passos ecoam mais alto do que os sentimentos, Sofia se senta perto da coluna central da estação final da linha azul. Seu violão, antigo e gasto, carrega mais do que cordas — carrega histórias. Ao seu redor, os olhares quase sempre passam por ela como se ela fosse apenas mais uma figura invisível, um som abafado entre anúncios e frenesi.

Mas Sofia não toca para ser vista. Ela toca para tocar.

A madeira do instrumento foi ungida com uma infusão de lavanda e verbena, feita em uma noite de lua crescente. E as cordas, afinadas com o coração, não seguem escalas comuns. Cada nota que ela dedilha é uma pequena costura no rasgo invisível de quem passa por ali.

Certa manhã, um senhor que sempre passava cabisbaixo parou. Primeiro por um instante. Depois, sentou. Na semana seguinte, começou a sorrir. Depois dele, veio a moça de olhos vermelhos do banco do meio. O adolescente que nunca desligava os fones. A mulher apressada que sempre tropeçava nos próprios passos. Todos, aos poucos, passaram a respirar diferente.

A magia de Sofia não está em rituais complexos nem em poções raras. Está na intenção por trás de cada acorde. Em seu violão repousa um feitiço de desaceleração do tempo, de reconexão com o que há de mais suave e essencial. Quando ela canta, até os trilhos parecem silenciar por um instante.

Ninguém a chama de bruxa. Mas todos sabem que, depois que passam por ela, algo muda. E voltam. Sempre voltam.

Porque a pressa cansa. Mas a música de Sofia acalma.

Frase escondida entre os acordes:
“Nem todo feitiço precisa de palavras. Às vezes, basta ouvir com a alma.”

✦ A Canção que Acalma – Capítulo 24