A Noite em Que o Vento Levou as Cobertas – Capítulo 56

A noite caiu com um vento atrevido. As janelas mal fechadas deixaram o ar gelado passear pelos aposentos. O pano leve das cortinas dançava no ritmo do frio que insistia em entrar, levando embora o aconchego das cobertas. Um dos cachorros soltou um latido sonolento, desconfortável com a brisa. O outro se aninhou mais junto da porta. Já os gatos, mais práticos, ocuparam o centro da cama como se fossem reis do conforto.

Ela despertou primeiro, sentindo o ar gélido contra a pele. Procurou a coberta e viu que parte dela estava no chão, outra parte sequestrada pelos bichanos, que agora roncavam numa preguiça sem culpa. Olhou para o lado e viu o corpo quente dele, exposto ao frio, mas ainda dormindo com um leve sorriso nos lábios. Sorriu com ternura. Aproximou-se sem pressa, como quem planeja um roubo de calor.

Ele abriu os olhos ao sentir o corpo dela se encaixando no seu. Ainda meio sonolento, murmurou com a voz rouca de desejo contido. Teu calor vale mais que mil cobertores. Ela encaixou o rosto na curva do pescoço dele e sussurrou, com um arrepio que não era só do frio. Então me cobre com você.

A resposta veio no silêncio dos toques. As mãos dele percorreram as costas dela devagar, como quem entende a linguagem do corpo que fala antes das palavras. Ela apertou as pernas ao redor dele, a pele arrepiada encontrando abrigo nos braços que a envolviam. Não havia mais vento que incomodasse, não havia mais lençóis perdidos pelo chão que fizessem falta. Eles se cobriam com pele, desejo, afeto e suspiros longos.

A madrugada passou entre carícias demoradas e olhares que se diziam tudo. Os gatos permaneceram imóveis, ronronando em sincronia, enquanto os cachorros se revezavam entre cochilos e pequenos latidos de sonho.

Quando o céu começou a clarear, ela o olhou nos olhos e disse baixinho. Se toda noite fria terminar assim, que o vento leve sempre nossas cobertas. Ele respondeu com um beijo calmo, demorado, daqueles que não têm pressa de acabar. E ali, naquele quarto onde o vento soprava histórias e a cama abrigava mais do que corpos, o amor se fez mais uma vez.

Porque há noites em que perder a coberta é só o pretexto que o universo encontra para fazer dois corpos se reconhecerem como lar.

A Noite em Que o Vento Levou as Cobertas – Capítulo 56