O Papel Amassado

Entre as gavetas antigas, a Rainha encontrou um pedaço de papel esquecido, amassado e manchado pelo tempo. Desdobrou-o com cuidado, como quem abre um relicário, e descobriu ali um rascunho de palavras que o Rei havia escrito para ela. As linhas eram tortas, a tinta um pouco borrada, mas cada frase pulsava com a sinceridade de quem ama em silêncio, sem pretensão de ser lido, apenas de sentir.

O Rei, ao perceber o achado, tentou disfarçar a timidez. Disse que era apenas um rabisco, algo que nunca deveria ter saído do fundo da gaveta. Mas a Rainha sorriu com ternura, aproximou-se e tocou o rosto dele, dizendo que aquelas palavras simples eram a forma mais pura de amor que alguém poderia oferecer.

Ela o beijou devagar, um beijo calmo e cheio de significado, como quem sela um pacto silencioso entre o que se escreve e o que se sente. O papel, agora repousando sobre a mesa, parecia ganhar vida, carregando a emoção de tudo o que não cabia mais em voz.

Luzia, curiosa, subiu na mesa e se acomodou sobre os papéis, deitando-se como uma guardiã do amor e de seus segredos. O Rei riu, e a Rainha respondeu que até a gata sabia reconhecer o que era sagrado.

“Até tua letra tremida escreve o destino do meu coração.”