O Guardanapo Escrito

Era um jantar simples, desses que acontecem sem planejamento, apenas pela vontade de estarem juntos. As velas tremeluziam sobre a mesa, refletindo nos olhos da Rainha, e o ar estava impregnado de uma calma que só o amor verdadeiro conhece. O Rei, entre um gole de vinho e outro, pegou um guardanapo de pano branco e, com uma caneta que trazia no bolso, começou a rabiscar distraidamente. Traçou linhas, curvas, até que surgiu um coração. Olhou para o desenho e, sorrindo com ternura, o entregou à Rainha como quem oferece uma promessa silenciosa.

Ela recebeu o guardanapo com um brilho nos olhos que nenhuma joia seria capaz de provocar. Dobrou-o com delicadeza, como se tocasse algo sagrado, e o guardou em seu livro de cabeceira — um altar de lembranças que guardava tudo o que o amor deles produzia, dos bilhetes às pétalas secas. O gesto era simples, mas trazia em si o peso de uma eternidade compartilhada.

Luzia, deitada sobre a mesa, observava os dois com aquele olhar sereno que só os animais possuem, como se entendesse que ali existia algo intocável. Ela descansou o focinho sobre o guardanapo, selando o momento com uma espécie de bênção silenciosa.

O Rei então segurou a mão da Rainha, olhou profundamente em seus olhos e disse em voz baixa, quase num sussurro que se misturou ao som do vento lá fora:

“Não importa o suporte, meu amor por você se grava em qualquer lugar.”