O Jardim Desperto

O sol nasceu como se o céu tivesse decidido sorrir de novo. A luz escorria pelos vitrais do castelo e se espalhava sobre a terra úmida do jardim, onde o silêncio da manhã era entrecortado apenas pelo som delicado das asas de Ícaro. O pássaro voava em círculos, como se traçasse no ar o desenho invisível da alegria que renascia em Veramor.

A Rainha ajoelhava-se junto às roseiras, tocando a terra com dedos firmes e suaves. O Rei, ao seu lado, retirava folhas secas e aparava os ramos que o inverno havia adormecido. Nenhum deles dizia palavra; o gesto bastava. O amor ali era uma linguagem antiga, aprendida em primaveras anteriores, onde o simples ato de cuidar se tornava oração.

Lórien, fiel guardião, deitava-se sob a sombra crescente de uma ameixeira em flor, com o olhar atento e sereno de quem conhece o tempo e suas voltas. Nilo, estendido ao sol, parecia absorver o calor da estação como se recarregasse em si toda a luz que o inverno levara.

As flores abriam-se devagar, libertando perfumes que se misturavam à brisa leve. O Rei ergueu o rosto e viu a Rainha sorrir, com pétalas presas aos cabelos. Naquele instante, compreendeu que o amor também era assim — feito de estações, de pausas e retornos, de raízes que suportam o frio para florescer de novo.

Ícaro pousou sobre a borda de uma taça de água e bicou o reflexo do céu. O som do seu canto encheu o ar como uma promessa. O Rei e a Rainha se olharam, e entre eles havia uma paz antiga e nova ao mesmo tempo, como se o próprio mundo tivesse acordado apenas para vê-los juntos outra vez.

O jardim despertava. E com ele, Veramor respirava em plenitude.