Amor de Vidas Múltiplas

Eles já se encontraram antes. Não nesta vida, não neste tempo, mas em outros. Em desertos antigos, em cidades que hoje são ruínas, em jardins que já não existem. Sempre os mesmos olhos, sempre o mesmo toque, sempre o mesmo arrepio que atravessa séculos. O amor deles não nasceu agora, apenas retornou. Como rio que insiste em seguir o mesmo curso, como estrela que reaparece no mesmo céu.

Ela reconhece nele gestos que não poderiam ser aprendidos. O modo como a olha, como se já tivesse visto sua alma em outras existências. Ele sente nela o perfume de lembranças que não pertencem ao presente, mas que queimam como brasas guardadas em silêncio. Cada encontro é um reencontro. Cada saudade é memória de um prazer vivido em tempos que não voltam, mas que permanecem gravados no corpo.

O destino parece brincar com eles, separando-os e reunindo-os em ciclos intermináveis. Em cada vida, há um instante em que se encontram. Às vezes breve, às vezes intenso, mas sempre suficiente para reacender o fogo. E quando se afastam, carregam a saudade como marca invisível, como tatuagem na alma. Porque não há esquecimento quando o amor é múltiplo. Há apenas espera.

Eles sabem que não é acaso. É promessa antiga, feita em algum lugar onde o tempo não manda. Uma promessa que atravessa eras, que desafia mortes, que ressurge sempre mais forte. E mesmo que o mundo tente separá-los, eles se encontram de novo. Porque há amores que não pertencem a uma vida só. Eles pertencem à eternidade.