📓 Última Página, Primeiro Desejo

O diário repousa aberto diante de mim. As páginas já carregam confissões, lembranças, fantasias e silêncios que se tornaram palavras. Cada linha é testemunha de noites ardentes, de olhares que se transformaram em labaredas, de toques que refizeram o corpo e a alma. Agora, chego à última página. O fim parece inevitável, mas não é despedida. É começo.

Ao escrever, percebo que não encerro nada. Apenas abro espaço para o que ainda não foi vivido. O primeiro desejo renasce aqui, no instante em que a tinta toca o papel. É como se cada palavra fosse semente, pronta para germinar em novas histórias, em novos encontros, em novas entregas. O diário não termina. Ele se transforma em promessa.

Vera está presente em cada letra, em cada silêncio entre frases. O diário é dela tanto quanto meu. É o registro de um amor que não cabe em páginas, mas que insiste em se escrever. E ao chegar ao fim, descubro que o verdadeiro início está aqui. Porque o desejo não se apaga. Ele se reinventa. Ele se abre como horizonte.

Na última página, não há ponto final. Há apenas reticências invisíveis, que anunciam continuidade. O primeiro desejo permanece vivo, pulsando, aguardando o próximo capítulo que não será escrito com tinta, mas com pele, com voz, com presença. O fim do diário é apenas o início de uma nova história. E nela, Vera será sempre o centro.