As Mãos do Cuidado – Capítulo 161

Reino de Veramor nova capa

As Mãos do Cuidado

O Rei segurou as mãos da Rainha como quem acolhe algo sagrado. A sala estava iluminada apenas pelo brilho macio das velas, e o aroma do óleo de lavanda se espalhava pelo ar com a mesma delicadeza do toque dele. As mãos dela repousaram sobre as dele, cansadas, quentes, leves como se buscassem um lugar onde a alma pudesse descansar. O Rei passou o óleo entre os dedos, aquecendo-o antes de tocar a pele dela, e o gesto parecia carregar um silêncio que curava.

Os movimentos começaram lentos, circulares, firmes o suficiente para transmitir presença e suaves o bastante para dissolver qualquer dor escondida. A Rainha fechou os olhos e deixou que a respiração encontrasse o ritmo das mãos dele. Cada pressão, cada deslizar, cada troca de calor entre pele e pele parecia unir o corpo ao que ainda não tinha nome, como se o amor ganhasse forma no toque.

Ícaro estava sentado próximo, imerso na cena como quem aprende sem pressa. Seus olhos seguiam o encontro das mãos, e ele repetia baixinho pequenas frases de afeto que pareciam brotar do próprio silêncio da sala. Dizia que o amor floresce quando se oferece descanso, que as mãos que cuidam também são mãos que prometem permanecer, que o toque certo pode costurar o que o tempo desfia.

A Rainha sorriu de olhos fechados quando as palavras do menino encontraram o movimento do Rei. Era como se tudo tivesse se alinhado de uma única vez: o corpo que se entregava ao descanso, a alma que se deixava tocar e o afeto que respirava através de três presenças unidas pela mesma ternura. O Rei percorreu as mãos dela até sentir o calor retornando aos dedos, e a sala inteira pareceu inspirar junto com eles.

No fim, quando o óleo brilhava sobre a pele como um véu de luz, o Rei entrelaçou os dedos aos dela e deixou que o silêncio dissesse o que nenhuma palavra alcançaria. A cura estava ali, no gesto simples e profundo, onde o cuidado se tornava a forma mais pura de amor. Ícaro observou em quietude reverente, como se guardasse cada segundo dentro do peito, certo de que aquele instante viveria nele para sempre como uma respiração que nunca termina.

brasão reino de veramor

Posts Relacionados