O Calor das Mãos Dela – Capítulo 171

Reino de Veramor nova capa

O Calor das Mãos Dela

A tarde se recolhia devagar quando a Rainha percebeu o frio leve nas mãos do Rei. Não era apenas o frio do corpo, mas aquele que nasce do cansaço acumulado, das longas vigílias feitas por amor. Ela se aproximou em silêncio e sentou-se diante dele, envolvendo suas mãos entre as suas, criando um pequeno refúgio de calor e presença. O gesto simples ganhou densidade, como se o tempo tivesse decidido parar ali para escutar.

O Rei fechou os olhos ao sentir o calor que vinha dela. As mãos da Rainha carregavam algo que ultrapassava a temperatura da pele. Havia ali memória, cuidado e permanência. Cada segundo daquele toque desfazia tensões antigas e acalmava o peso invisível do tempo. Sem palavras, o gesto se transformava em oração silenciosa, daquelas que não pedem, apenas confiam.

Lórien, o cachorro, aproximou-se com passos tranquilos e deitou-se próximo à cama, oferecendo sua presença firme e silenciosa como um guardião atento. Bravus permaneceu alguns passos atrás, sentado, observando tudo com serenidade madura, como quem entende que cuidar também é saber quando apenas estar. Os dois formavam um campo de proteção invisível, sustentado pela lealdade que não precisa ser anunciada.

Nilo, o gato, caminhou com elegância até os pés do Rei e ali se acomodou, atento, os olhos semicerrados acompanhando o encontro das mãos. Luzia subiu com delicadeza e deitou-se próxima à Rainha, oferecendo seu ronronar baixo, constante, como um fio contínuo de tranquilidade que atravessava o ambiente e tocava o coração.

Ícaro pousou perto, no encosto da cadeira. Dobrou as asas com cuidado e deixou escapar notas baixas, quase sussurradas. Seu canto não preenchia o espaço, mas aquecia o silêncio. Cada som parecia aprofundar o gesto da Rainha, como se ajudasse o cuidado a alcançar lugares que o toque sozinho não alcançaria.

A Rainha manteve as mãos firmes, sem pressa, permitindo que o Rei respirasse no ritmo que o corpo pedia. Ela não tentava afastar o cansaço. Apenas o acolhia. O Rei sentiu que naquele calor havia aceitação plena, a certeza de que não precisava ser forte o tempo todo para continuar sendo amado.

Os animais permaneceram ali, cada um em seu lugar, formando um círculo vivo de presença. Lórien imóvel e atento. Bravus sereno e vigilante. Nilo próximo, guardando o silêncio. Luzia entregando conforto com sua quietude. Ícaro sustentando o invisível com seu canto baixo. O quarto se transformava em um espaço sagrado, onde o amor se manifestava sem esforço.

O Rei abriu os olhos e encontrou o olhar da Rainha. Não houve palavras. Apenas a compreensão profunda de que o toque dela não era apenas cuidado, mas cura. Era o reconhecimento de que amar também é aquecer, sustentar e permanecer quando o tempo pesa.

E assim, no calor das mãos dela, o Reino de Veramor respirou mais uma vez em paz, sabendo que a verdadeira força nasce da doçura da presença e do amor que sabe acolher todas as fases da vida.

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