A Assinatura Oculta – Capítulo 6

Naquela noite, Clara não conseguiu dormir. O quadro inacabado permanecia vívido em sua mente como se tivesse sido tatuado atrás de suas pálpebras. A mão envolta em névoa, os traços que pareciam sussurrar… havia algo ali que ela ainda não tinha visto.

Determinada, voltou ao sótão com uma lanterna nas mãos e uma sensação crescente de urgência no peito. A luz artificial recortava o escuro em feixes duros, revelando o cavalete imóvel, como um guardião esperando por seu retorno.

Aproximou-se da tela com cuidado. Quando direcionou a luz para a parte inferior da pintura, percebeu pequenas rachaduras na tinta, como se algo estivesse escondido sob a superfície. O brilho oblíquo da lanterna revelou riscos tênues, como uma escrita apagada.

Segurando a respiração, inclinou-se mais. Com a ponta dos dedos, removeu cuidadosamente uma película de pó seco que cobria a parte inferior da moldura. Aos poucos, os traços tornaram-se mais nítidos, não eram meros esboços. Eram palavras.

Escritas em carvão, ocultas sob a camada de tinta, uma frase emergia como se viesse de outra era:

“Ela precisa lembrar.”

Clara recuou instintivamente, tomada por um frio súbito que não vinha do sótão. O carvão, ainda intacto sob o tempo e a tinta, parecia pulsar como uma voz silenciosa. Aquela mensagem era direta, quase íntima.

Mas a quem se referia?
A Lisbeth, talvez? Ou… seria ela mesma?

Seu coração batia descompassado. Era impossível não sentir que o quadro, ou Elias, tentava comunicar algo que transcendia o físico. A frase ressoava dentro dela como se fizesse parte de algo esquecido há muito tempo, algo enterrado profundamente em sua memória.

Clara ergueu novamente a luz da lanterna e vasculhou outras áreas da tela. Em meio a arabescos apagados e manchas de tinta, divisou o que parecia ser uma assinatura, mas estava incompleta. Apenas duas letras eram visíveis, entrelaçadas no canto da moldura: “E.L.”

Elias? Ou seria apenas mais uma coincidência?

Clara afastou-se lentamente. O sótão, agora, já não era apenas um espaço antigo cheio de lembranças. Era um lugar vivo. Um relicário de ecos e intenções deixadas para alguém que deveria lembrar, mesmo que ainda não soubesse do quê.

E ela começava a temer que esse alguém fosse ela.

 A Assinatura Oculta – Capítulo 6