A Aula de Palavras

A manhã no castelo começou com uma luz suave que atravessava as janelas do salão principal, iluminando o espaço onde o Rei e a Rainha haviam preparado uma pequena mesa com frutas, água fresca e alguns papéis espalhados. Tudo estava pronto para mais um momento de encanto: a aula de palavras de Ícaro. O pequeno pássaro, empoleirado no braço da cadeira da Rainha, observava tudo com os olhos brilhantes de expectativa.

Lórien deitou-se próximo aos dois, atento como sempre, movendo apenas as orelhas a cada som novo que surgia. Nilo, curioso e cheio de energia, caminhava pelo salão, farejando o ar e parando de tempos em tempos para olhar Ícaro, como se tentasse compreender que tipo de magia aconteceria ali.

A Rainha aproximou-se do pássaro e disse uma palavra com voz doce. Ícaro inclinou a cabeça e repetiu o som ainda tímido, como se testasse cada letra no próprio coração antes de deixá-la voar. O Rei sorriu, aproximou-se também e pronunciou outra palavra, desta vez uma curta expressão de amor que sempre guardara para ela. Ícaro tentou imitar, e o resultado fez a Rainha rir com ternura.

A cada nova frase ensinada, o ambiente parecia se encher de um brilho próprio. Ícaro repetia as palavras como bênçãos que se espalhavam pelo salão, criando pequenas vibrações que tocavam a alma de todos ali. A Rainha então disse uma frase inteira, falando devagar, com o cuidado de quem oferece um presente precioso. Ícaro escutou, ajeitou as asas, respirou fundo e repetiu com uma doçura surpreendente.

O Rei e a Rainha se entreolharam, emocionados com a delicadeza daquele instante. Lórien levantou a cabeça, como se reconhecesse a beleza daquelas melodias humanas agora ecoando na voz do pássaro. Nilo, encantado, sentou-se perto da Rainha e encostou o focinho em sua perna, sentindo que algo especial acontecia.

A linguagem naquele momento não era apenas som, mas ponte. As palavras ensinadas transformavam-se em gestos invisíveis que uniam o coração dos três e também dos animais que partilhavam silenciosamente daquele cenário. Ícaro, ao repetir cada nova expressão, fazia o amor circular de um para o outro como uma corrente leve e luminosa.

Quando a aula terminou, Ícaro pousou no ombro do Rei e disse uma frase curta que aprendera naquele mesmo instante, uma frase que falava de amor e gratidão. A Rainha levou a mão ao peito, comovida. Lórien suspirou e repousou novamente. Nilo deitou-se ao lado deles, fechando os olhos como se embalado pela música de palavras recém-descobertas.

E naquele salão banhado por luz, ficou claro que a linguagem, quando nasce do amor, não ensina apenas sons. Ensina almas a se tocarem.