A Brisa e o Lençol

A tarde em Veramor trouxe um vento suave que caminhava pelo jardim como quem desejava contar segredos. A Rainha saiu com um cesto de roupas limpas nos braços e levou os lençóis brancos até a corda estendida entre duas árvores antigas. O sol filtrava-se entre as folhas e criava sombras móveis que dançavam sobre o tecido enquanto ela prendia cada ponta com cuidado.

Ícaro foi o primeiro a sentir a brincadeira que a brisa oferecia. Voou baixo, atravessando os lençóis que se inflavam como grandes asas de nuvem. Seu canto leve se misturava ao som do vento e criava uma pequena sinfonia que se espalhava pelo jardim. A Rainha sorriu ao vê-lo desaparecer atrás de um lençol e surgir novamente por outro lado, como se o tecido fosse um portal mágico criado só para ele.

O Rei observava tudo a uma certa distância, encostado na pilastra de pedra do pátio. Os olhos dele seguiam os movimentos da Rainha com a mesma admiração que tivera nos primeiros dias, quando o amor ainda se descobria em pequenos gestos cotidianos. Ele via o modo como ela esticava o tecido, como seus dedos deslizavam pelo lençol para alisá-lo, como seu rosto se iluminava ao sentir o perfume do sabão misturado ao vento. Era como se cada gesto dela fosse uma lembrança viva de tempos antigos, e também uma promessa silenciosa de tudo o que ainda floresceria.

Lórien aproximou-se com passos lentos, sentando-se ao lado do Rei como se quisesse compartilhar aquele instante. Seus olhos acompanharam Ícaro voando entre os lençóis, atentos e curiosos, movendo as orelhas a cada som que o pássaro fazia. Nilo, sempre elétrico, correu pelo jardim, passando por baixo dos lençóis que tremulavam como velas de barco. De vez em quando, ele pulava tentando alcançar Ícaro, mas desistia ao perceber que o pássaro sempre escapava com leveza.

A Rainha terminou de prender o último lençol e ficou um instante parada, deixando que a brisa tocasse seu rosto. O tecido inflado passou por ela como uma carícia, e ela fechou os olhos, absorvendo o momento. Ícaro pousou próximo ao seu ombro, quase tocando o cabelo dela com a ponta da asa. Lórien aproximou-se e deitou-se aos pés dela, enquanto Nilo se sentava ofegante, satisfeito com as correrias.

O Rei caminhou até a Rainha com passos calmos. Não disse nada. Apenas a olhou como quem contempla o próprio lar. A brisa continuou brincando com os lençóis, criando formas suaves que pareciam respirar com eles. O jardim, os animais, a luz, tudo parecia envolvido em uma atmosfera de pureza e serenidade.

E naquele instante simples, em meio ao perfume do sabão, ao vento dançante e ao riso leve de Ícaro, o Rei percebeu que o amor se encontrava exatamente ali: na delicadeza dos dias comuns, na presença silenciosa dos que permanecem, e na brisa que transforma um lençol estendido em poesia viva.