✦ A Bruxa e o Cachorro de Rua – Capítulo 11

Na esquina de uma cidade apressada, entre o barulho dos carros e o cinza das calçadas, havia um beco pouco iluminado que ninguém notava. Foi ali que Clara, uma jovem bruxa de olhar compassivo, encontrou o cão. Ele estava magro, os pelos embolados, os olhos cansados, mas ainda assim havia algo de antigo e profundo naquele olhar. Algo que a fez parar.

Ela se ajoelhou lentamente, tirou do bolso um pedaço de pão que sempre levava para compartilhar com os pássaros e ofereceu ao animal. O cachorro hesitou, mas aceitou. Quando ela estendeu a mão para acariciá-lo, sentiu um arrepio leve na espinha, como se tivesse tocado algo que não pertencia inteiramente àquele tempo.

Naquela noite, Clara levou o cão para casa. Deu-lhe banho, comida, uma almofada ao lado da lareira. E um nome: Guardião. A partir daquele momento, Guardião nunca mais saiu de perto dela. Mas logo, eventos estranhos começaram a acontecer. Sonhos com florestas antigas, visões de guerras que Clara nunca vivera, sussurros ao vento que pareciam invocá-la por outros nomes que ela não conhecia.

Com o tempo, descobriu que o cão que salvara não era apenas um animal. Guardião carregava em si a memória de uma aliança ancestral entre humanos e os espíritos protetores da natureza. Por ter demonstrado compaixão, Clara havia sido escolhida como a nova portadora desse vínculo. Guardião não era apenas um cão. Era um espírito guardião encarnado, retornado à Terra para protegê-la — e guiá-la.

Desde então, Clara passou a ver o mundo com outros olhos. Aprendeu que a verdadeira magia não está apenas nos rituais, mas nos gestos de bondade que ecoam além do tempo. E que, às vezes, as criaturas que resgatamos são, na verdade, aquelas que vieram para nos salvar.

A Bruxa e o Cachorro de Rua – Capítulo 11