A Calça de Moletom e o Desfile Real – Capítulo 42 

O sol da tarde atravessava as cortinas semiabertas do quarto do casal real no coração do Reino de Veramor. Era domingo, e o ritmo do palácio seguia o compasso de uma canção preguiçosa. As tarefas haviam sido deixadas de lado por um instante, dando lugar à calmaria que só os dias de descanso permitiam. Os dois gatos corriam pela casa em ziguezagues improváveis, pulando sobre almofadas, cortinas e, por que não, nas pernas do próprio Rei, que tentava atravessar o corredor com uma caneca de chá nas mãos, sendo atacado com saltos felinos e miados atrevidos.

Os cachorros, por sua vez, viam toda aquela movimentação como um convite para brincar. Latidos curtos e caudas balançando em ritmo frenético enchiam o ar de uma alegria barulhenta. Um deles carregava a meia da Rainha na boca como troféu real. O outro, enciumado, tentava alcançar os gatos que já estavam em cima da estante. Era o caos perfeito. A vida em sua versão mais doméstica e deliciosa.

No meio dessa coreografia improvisada, a Rainha surgiu na sala. Os cabelos presos de qualquer jeito, uma camiseta antiga e uma calça de moletom que denunciava o desejo absoluto de conforto. E foi ali, naquela ausência de pompa, que a verdadeira realeza brilhou.

O Rei parou. Baixou a caneca. E como quem assiste à entrada triunfal de uma deusa em sua mais perfeita forma humana, fez uma reverência exagerada, com uma das mãos sobre o peito e um sorriso rendido nos lábios.

Ele disse com a voz embriagada de afeto e desejo:

Você poderia ter vindo vestida de estrelas, de seda ou de silêncio. Mas é essa calça de moletom que declara teu domínio absoluto sobre mim. Senhora da minha rotina e Rainha dos meus olhos.

Ela arqueou uma sobrancelha com charme, fingindo desdém enquanto afagava um dos gatos que se enroscava na barra da calça.

Pois saiba que este desfile não foi feito para impressionar o povo. Foi feito para você, Rei atrevido. E só você.

Ele se aproximou devagar, sentindo o cheiro dela, mistura de creme e calor de tarde morna. O corpo dela se encaixava no dele como uma promessa antiga que finalmente se cumpre todos os dias. Ela passou os dedos pelo cabelo dele e sussurrou, com aquele tom que mistura provocação e ternura:

Talvez o trono mais confortável deste Reino de Veramor seja teu peito. Mas hoje… talvez eu sente no teu colo só para lembrar quem é que governa por aqui.

Ele riu, apertando a cintura dela com firmeza. Os cães pularam ao lado deles, latindo como se aprovassem a decisão. Um gato subiu no encosto do sofá e miou com aprovação. E naquela bagunça amorosa, entre patas, pelos, moletom e carícias, os dois compreenderam, mais uma vez, que a verdadeira realeza está no toque, no olhar, no afeto cotidiano.

Porque em Veramor, até a roupa mais simples vira traje de gala quando o amor se veste de presença. E naquele instante, tudo era festa. Até o caos era parte do encanto.

A Calça de Moletom e o Desfile Real – Capítulo 42