🌿 A Canção dos Galhos Ocultos – Capítulo 9

Desde que Enid desceu à Terra Profunda e a clareira se fechou sobre ela como uma respiração satisfeita, a aldeia vive em um silêncio novo. Um silêncio que não assusta, mas escuta.

Na primeira manhã depois do ritual final, algo mudou ao redor. As árvores, antes imóveis e silenciosas, começaram a se mexer… mesmo sem vento.

Não era apenas um balançar de folhas. Era ritmo.

Era melodia.

Os galhos dos carvalhos mais antigos estalavam suavemente, e das copas altas, uma canção baixa e arrastada parecia fluir. Não eram palavras, mas sons antigos, quase guturais, ora doces como ninar, ora densos como lamento. Um canto de seiva, musgo e tempo.

Os adultos pararam. Escutaram. Mas não entenderam.

As crianças, por outro lado, congelaram.

E então começaram a sorrir.

— Eles estão contando uma história, sussurrou Lia, a menor entre elas. Seus olhos brilhavam, fixos nas copas dançantes.

— Uma história sobre raízes que sonham, completou Tomás, o filho do ferreiro.

Os pais, assustados, tentaram silenciá-los. Mas todas as crianças da aldeia, sem exceção, se reuniram espontaneamente no limite da floresta, como se tivessem sido chamadas para um encontro silencioso. Nenhuma gritava. Nenhuma corria. Apenas escutavam.

Marten, o caçador, olhava nervoso para o céu.

— Isso não é natural. Árvores não cantam. Não assim. Não todas ao mesmo tempo.

O Guardião, presente nas sombras, respondeu:

— Elas não cantam. Ecoam.

— Ecoam o quê?

— A nova aliança. A ponte viva. Enid.

Darina olhou as crianças com angústia.

— Mas por que só elas ouvem?

O Guardião se aproximou. Havia ternura em seus olhos antigos.

— Porque ainda não esqueceram. Porque não foram ensinadas a silenciar a alma com medo. Elas ainda sabem ouvir o mundo quando ele sussurra, e não apenas quando ele grita.

Nesse instante, Cael surgiu entre as árvores.

Sim, Cael.

Mas agora ele era apenas menino. Um menino com olhos castanhos, pele de terra limpa e cheiro de folhas. Sem brilho âmbar, sem voz duplicada. Humano. Inteiro. Retornado.

Ele caminhou até os outros e, sem dizer nada, sentou-se com as crianças. Fechou os olhos e começou a balançar o corpo lentamente, como embalado por uma música invisível.

Idran chorou em silêncio.

Naquele dia, as crianças permaneceram ali até o sol se pôr. Ao voltarem para casa, uma a uma, passaram por seus pais sem dizer palavras, apenas com olhos sonhadores.

Mais tarde, naquela noite, todas desenharam a mesma imagem em suas paredes, pedras e pedaços de casca de árvore: uma espiral de galhos entrelaçados envolvendo uma única flor branca no centro.

E então, um por um, antes de dormir, repetiram a mesma frase, sem saber de onde a tinham aprendido:

“A raiz canta quando a lembrança floresce.”

A Canção dos Galhos Ocultos – Capítulo 9