A Carta que Chegou Tarde

A carta demorou mais do que deveria. O tempo a reteve em caminhos desconhecidos, como se quisesse testar a força da saudade. Quando finalmente chegou, já não havia pressa. Havia apenas o impacto de palavras que, mesmo tardias, ardiam como fogo recém-acendido. Ela abriu o envelope com mãos trêmulas, como quem toca um corpo esperado há muito. Ele escreveu cada linha como se fosse um beijo guardado, um toque contido, um suspiro que não encontrou espaço no silêncio.

As palavras vinham impregnadas de calor. Não eram frias, não eram distantes. Eram vivas, pulsantes, carregadas de desejo. Cada frase parecia roçar sua pele, cada lembrança descrita era um arrepio que atravessava o tempo. A carta não chegava tarde. Chegava no momento exato em que o coração precisava ser lembrado de que ainda havia promessa, ainda havia chama, ainda havia encontro.

Ela leu devagar, saboreando cada palavra como se fosse vinho. Ele, ao escrevê-la, já sabia que o tempo não apagaria o ardor. Porque cartas não são apenas mensagens. São presenças. São corpos que se estendem em papel, são bocas que falam sem som, são mãos que tocam sem estar. E mesmo que o atraso fosse inevitável, o calor permanecia intacto.

O beijo escrito não perdeu força. O toque descrito não perdeu intensidade. A carta que chegou tarde trouxe consigo a certeza de que o amor deles não se mede em horas, mas em eternidades. E quando ela terminou de ler, não havia ressentimento. Havia apenas a sensação de ter sido tocada. Porque palavras, quando são verdadeiras, nunca chegam tarde. Elas chegam sempre quentes, sempre vivas, sempre necessárias.