A Discussão Sobre o Tapete Novo – Capítulo 39

No coração do Reino de Veramor, aquele dia começou com promessas de paz e terminou em uma batalha elegante por centímetros de estilo. A Rainha, com seu olhar decidido e gosto refinado, queria um tapete bege. O Rei, com sua alma impulsiva e apaixonada por cor, sonhava com um azul profundo, da cor das madrugadas em que desejava sua Deusa em silêncio.

A loja real virou palco de comparações acaloradas. Ela segurava amostras de tecidos como se segurasse argumentos. Ele passava os dedos pelas texturas como quem acaricia uma ideia.
— Esse azul tem personalidade, dizia ele, quase sussurrando, se aproximando demais.
— Esse bege tem classe, retrucava ela, virando-se de leve, deixando escapar o perfume que sempre o desestabilizava.

As mãos se encontraram no meio do mostruário. Ele a puxou suavemente pela cintura, os olhos brincando com os dela.
— Você sabe que eu só discordo pra ver esse brilho no teu olhar, não sabe?

Ela mordeu o lábio, disfarçando um sorriso.
— E você sabe que só está ganhando tempo até que eu te vença pela lógica.

Entre uma amostra e outra, esqueceram momentaneamente do tapete e lembraram de que a provocação sempre fora o verdadeiro chão onde dançavam. Riam, tocavam-se levemente, jogavam charme como quem joga lenha no fogo do desejo antigo.

De volta ao palácio, o impasse ainda os seguia. Mediram o espaço da sala com trena, olharam o sol batendo nos móveis, analisaram os quadros na parede. E, quando estavam prestes a chegar a um impasse definitivo, um dos gatinhos pulou no rolo de um tapete estampado esquecido no canto e se deitou com o ar mais decidido do mundo.

Ela olhou para ele, triunfante.
— Parece que o gato tem mais bom gosto que a gente.

Ele se aproximou por trás, abraçando-a com preguiça intencional, sussurrando no ouvido dela como se cada palavra fosse um beijo escondido.
— Ou talvez ele tenha sentido que nesse tapete a gente ainda vai rolar muitas noites sem consenso, mas com muito prazer em discordar.

Ela virou o rosto lentamente, olhos meio fechados, e respondeu com a boca quase encostada na dele:
— Discordar contigo ainda é meu esporte favorito.

Escolheram o tapete estampado. Não era bege, nem azul. Mas tinha um pedaço de ambos. E no centro, já dormia um gato, enquanto dois amantes continuavam a inventar jeitos de fazer o amor caber até nos detalhes do chão.

A Discussão Sobre o Tapete Novo – Capítulo 39