A Fila do Mercado Real – Capítulo 33

A manhã começou com um aviso silencioso: a última fatia de pão foi disputada num olhar longo entre o Rei e a Rainha. A Rainha, com sua serenidade costumeira e um leve arqueamento de sobrancelha, declarou:

— “A despensa pede socorro. E não será ela quem sairá pra comprar legumes.”

O Rei, que tentava fingir que não ouvira, tropeçou na própria desculpa mal formulada. Depois de um breve debate real, onde ela venceu usando apenas três argumentos e um sorriso de canto de boca, ele cedeu com dignidade (quase).

— “Tudo bem, eu vou. Mas levo reforço.”

Saiu acompanhado de Tobias, o mais sociável dos cães do Reino de Veramor, aquele que conquista corações com um simples abanar de rabo e que costuma receber mais carinho que o próprio Rei. No caminho, pararam três vezes: uma para cheirar flores, outra para o cão fazer amizade com uma vendedora de ovos, e a terceira porque o Rei havia esquecido a lista de compras no bolso e precisou desamassar.

O mercado estava cheio, como sempre aos sábados, mas o Rei avançou pelas prateleiras como um cavaleiro em missão. Milho, batata, queijo, chá de camomila, sabão em barra e, por impulso do coração, um buquê de flores amarelas, escondidas discretamente entre os legumes na sacola retornável.

Ao voltar ao palácio, foi recebido por dois gatos que fingiam não ligar, um cachorro que fez festa e uma Rainha de avental, rindo ao ver o estado do herói de mercado.

Ele colocou as sacolas sobre a mesa, tirou a flor cuidadosamente e, ainda com as mãos cheirando a salsinha fresca, disse:

— “A feira estava cheia… mas meu pensamento seguia em casa. Com você.”

A Rainha pegou as flores, olhou para ele com ternura e respondeu:

— “Você esqueceu o café. Mas trouxe o essencial.”

A Fila do Mercado Real – Capítulo 33