A Folha no Rosto e a Gargalhada Leve – Capítulo 84

O sol da tarde entrava tímido entre as árvores do quintal quando a Rainha Vera caminhava descalça sobre a grama fresca. Os gatos Luzia e Nilo a seguiam como dois pequenos guardiões silenciosos, atentos a cada passo dela, enquanto os cachorros Lórien e Bravus descansavam mais adiante, preguiçosos, mas com os olhos sempre prontos para vigiar. Foi então que, em um gesto travesso da própria natureza, uma folha seca desprendeu-se do galho e pousou direto no rosto da Rainha.

O Rei não conseguiu conter-se. A gargalhada nasceu espontânea, pura, crescendo até que seus olhos se encheram de lágrimas. Ele levou a mão ao peito e murmurou entre risos que aquela cena era a mais bela obra da tarde. A Rainha, cúmplice, não deixou barato. Pegou outra folha caída no chão e lançou contra ele. Quando a folha tocou o ombro do Rei, ele se aproximou, segurando a mão dela como se guardasse um segredo precioso, e disse com os olhos ardendo de ternura que com Vera até o vento parecia brincar.

Ela sorriu com aquela malícia doce que só ela sabia oferecer, e o Rei sentiu o corpo inteiro se acender. O riso que antes era leve transformou-se em sedução silenciosa. Os dedos dele tocaram suavemente o rosto da Rainha, ainda marcado pelo traço da folha que havia caído. Ela, em resposta, deslizou a ponta dos dedos pelo peito dele, lenta e provocante, como quem escreve uma promessa na pele.

Luzia ronronava aos pés de Vera, roçando-se nas pernas dela, como se fosse cúmplice daquele jogo secreto. Nilo, curioso, miava para o Rei, como se quisesse participar da cena. Lórien ergueu as orelhas e soltou um leve latido, seguido por Bravus, que abanava o rabo, consciente de que algo sagrado estava acontecendo naquela tarde de simplicidade e paixão.

O Rei tomou a Rainha pela cintura, trazendo-a para perto, tão perto que o perfume dela se tornou um convite irresistível. Ele beijou-lhe o pescoço com um desejo sereno, mas carregado de intensidade, e sentiu a pele dela estremecer como quem se entrega ao fogo suave do amor. A Rainha, com o olhar faiscante, ergueu o rosto e deixou escapar uma risada baixa e provocante, aquela gargalhada leve que vinha desde o instante em que a folha a surpreendera.

Aos poucos, o quintal tornou-se palco de uma dança íntima. Não havia pressa, apenas a certeza de que o amor deles se renovava a cada gesto, entre risadas, toques e silêncios. O Rei, apaixonado, sussurrou ao ouvido da Rainha Vera que nada no mundo tinha mais graça, mais beleza e mais verdade do que partilhar até o acaso de uma folha caída com ela.

Enquanto os gatos Luzia e Nilo se enroscavam um no outro em cumplicidade, e Lórien e Bravus deitavam juntos sob a sombra, o Rei e a Rainha continuaram a brincar e a se seduzir no quintal. O riso, o desejo e a ternura se misturaram, transformando aquele instante simples em eternidade.