✦ A Fonte do Reencontro – Capítulo 38

Na praça central da vila, entre árvores antigas e bancos de ferro trabalhado, repousa uma fonte de pedra esculpida com figuras de corações, luas e pequenas mãos entrelaçadas. Dizem os mais velhos que aquela fonte está ali há séculos, mas só passou a ter o poder do reencontro depois que uma bruxa silenciosa, de cabelos prateados e olhos da cor do entardecer, passou uma madrugada inteira sussurrando feitiços nas águas paradas.

Não foi um feitiço de espetáculo. Não houve luzes nem trovões, tampouco fumaça ou palavras em línguas esquecidas. Foi um encantamento tecido com doçura, lembranças e saudade. Ela recolheu lágrimas deixadas em bancos vazios, pequenos bilhetes perdidos no chão e os nomes sussurrados ao vento por quem já não sabia mais como buscar.

Desde então, quem se aproxima da fonte com o coração aberto e traz consigo uma pétala — não importa de qual flor — pode lançá-la sobre a água com um pensamento sincero de reencontro. O que acontece depois não é imediato. Às vezes, a pessoa reencontrada surge no mesmo dia. Às vezes, leva semanas. Em certas ocasiões, vem em forma de carta, telefonema ou encontro inesperado numa padaria qualquer.

Mas o que nunca falha é o sentimento de que algo foi movimentado no invisível.

Naquela tarde, por entre o vai e vem das pessoas da vila, uma jovem de vestido azul claro se aproximou da fonte. Suas mãos tremiam levemente, e em seus dedos havia uma pétala de girassol. Ela a segurava como quem segura uma despedida antiga que ainda dói. Murmurou algo para si mesma, fechou os olhos e deixou a pétala cair.

Por um instante, a água pareceu absorver o som ao redor. O burburinho da praça silenciou, os pássaros pararam de cantar e até o vento se aquietou. A pétala girou lentamente na superfície, depois afundou sem fazer bolha, como se a fonte tivesse engolido com delicadeza aquele pedido de alma.

Horas depois, enquanto caminhava distraída pelas ruelas da cidade, a jovem quase tropeçou ao ver alguém vindo em sua direção. Era ele. Alguém que ela não via há anos. O sorriso que se formou no rosto dos dois não precisava de explicação. A fonte tinha respondido.

Numa varanda próxima, uma mulher observava em silêncio, tomando chá em uma xícara azul. Seu cabelo prateado balançava com o vento e seus olhos, da cor do entardecer, se fecharam por um segundo, como se agradecessem. A bruxa que encantou a fonte sabia: o mundo ainda precisava de reencontros. E ela continuaria guardando cada um deles com carinho invisível.