A Janela do Inverno

O inverno se anunciava do lado de fora com um silêncio branco. O Rei permanecia junto à janela, observando o frio repousar sobre o jardim, transformando folhas, caminhos e galhos em formas delicadas cobertas pela quietude da estação. A paisagem parecia suspensa no tempo, como se o mundo tivesse decidido respirar mais devagar. Dentro do quarto, porém, havia calor, presença e vida partilhada.

A Rainha sentou-se ao lado dele, segurando um livro aberto entre as mãos. Sua voz era baixa e contínua, desenhando palavras no ar com a mesma suavidade com que o inverno desenhava o gelo lá fora. Enquanto lia, o fogo da lareira crepitava atrás dela, e as chamas refletiam em seus olhos com um brilho vivo, quente, profundamente humano. O Rei desviava o olhar da janela apenas para observá-la, sentindo que aquele contraste entre o frio exterior e o calor interior era o retrato exato do amor que construíram.

Lórien, o cachorro, estava deitado próximo à lareira, o corpo estendido em total confiança, absorvendo o calor que emanava do fogo. Bravus permanecia mais perto da janela, atento ao exterior, como se vigiasse o inverno para garantir que ele permanecesse apenas do lado de fora. A presença dos dois trazia segurança e equilíbrio, como pilares silenciosos daquele instante.

Nilo, o gato, repousava no parapeito da janela, observando os flocos ou o vento frio com curiosidade calma, os olhos atentos ao movimento do mundo adormecido. Luzia estava enroscada próxima à Rainha, acompanhando a leitura com o ronronar suave que preenchia os espaços entre uma frase e outra, transformando o quarto em um refúgio de serenidade.

Ícaro pousou em uma viga alta, próximo à luz morna da lareira. Suas penas refletiam tons dourados enquanto ele permanecia em silêncio respeitoso, como se compreendesse que aquele momento não pedia canto, apenas presença. Ainda assim, sua quietude era também uma forma de companhia, um lembrete de que até o ar estava atento àquele encontro simples e profundo.

O Rei sentiu uma gratidão silenciosa tomar conta do peito. O inverno já não lhe parecia uma estação de ausência, mas de recolhimento consciente. Ali, junto à janela, ouvindo a voz da Rainha, cercado pelos animais do Reino e pelo fogo que aquecia o ambiente, ele compreendeu que o tempo partilhado é o maior dos presentes. Não importava o frio do mundo exterior. O que importava era o calor que permanecia, firme e constante, dentro.

A Rainha fechou o livro por um instante e apoiou a cabeça no ombro dele. O Rei fechou os olhos, permitindo que aquele gesto simples selasse o momento. Do lado de fora, o inverno seguia seu curso. Do lado de dentro, o amor mantinha tudo aquecido, iluminado e pleno. E assim, diante da Janela do Inverno, o Reino de Veramor descansava na certeza de que o amor verdadeiro transforma qualquer estação em abrigo.