✦ A Janela que Sempre Floresce – Capítulo 21

Na encosta de uma montanha serena, onde as nuvens às vezes passeiam rente aos telhados, vivia Eliza, uma jovem bruxa de olhar tranquilo e mãos que sabiam conversar com a terra. Sua casa era simples, feita de madeira clara e coberta por um telhado de telhas antigas. Mas o que mais chamava atenção não era a arquitetura, e sim a janela da frente, sempre adornada por flores que mudavam de cor como quem muda de sentimento.

Essas flores não eram comuns. Eliza as cultivava com encantos suaves que misturavam lavanda seca, pétalas de girassol e sorrisos silenciosos ao entardecer. Nenhuma delas crescia por água apenas. Elas só floresciam quando sentiam um coração triste passando pela rua de pedras irregulares em frente à sua casa.

Pessoas da vila começaram a notar. Quando estavam angustiadas ou pensativas, bastava uma caminhada por aquela ruazinha e, ao olharem para a janela de Eliza, eram recebidas por uma explosão de cores, violetas quando o pesar era profundo, amarelas quando a saudade pesava, rosas quando a solidão apertava o peito.

As crianças diziam que as flores falavam baixinho. Os mais velhos achavam que a bruxa as fazia sorrir com feitiços. Eliza nunca explicou. Apenas regava com chá morno de camomila, cantava baixinho canções de cura e, quando ninguém via, sorria para cada botão que nascia.

Ela não pedia nada em troca. Apenas ficava sentada na cadeira de balanço, bordando ou lendo, enquanto observava, ao longe, pessoas partindo mais leves do que chegaram.

Naquela vila escondida entre montanhas, Eliza ensinou, sem palavras  que flores podem ser um abraço. E que às vezes, tudo que alguém precisa é passar por uma janela que sabe ouvir com cor.

✦ A Janela que Sempre Floresce – Capítulo 21