A Janela Trancada e a Vontade de Fugir com Ela – Capítulo 41

No fim da tarde, o céu do Reino de Veramor ganhava tons de vinho e dourado. O vento chegava pelas frestas das janelas com cheiro de lavanda e terra molhada, sussurrando coisas que ninguém mais ouvia, exceto a Rainha, que naquele momento estava sentada à beira da cama, olhando fixamente para a janela fechada do quarto.

Os dois gatos brincavam de pega-pega pelo tapete, com agilidade teatral, desviando das almofadas e do cesto de roupas como se fossem obstáculos num palco real. Os dois cachorros corriam ao redor da casa como se quisessem desenhar um círculo mágico de proteção em torno de seus donos. E, mesmo assim, havia um silêncio espesso entre os dois humanos mais importantes daquele pequeno reino.

A Rainha suspirava, e o Rei, encostado no batente da porta, observava cada movimento dela como se procurasse a senha para decifrar sua ausência, mesmo presente.

Ela não disse nada. Só o olhar falava. E falava alto. Ele entendeu. Às vezes, ela precisava de espaço, de silêncio, de ausência breve para recuperar a presença inteira. Mas ele também sabia que não queria distância. Queria colo. Queria ela, inteira, presente, ali.

Caminhou até ela devagar. Sentou-se ao lado sem dizer palavra. Apenas a encostou em seu ombro. A Rainha demorou, mas repousou ali sua cabeça, como se aquilo fosse o lugar onde o mundo enfim parava de pesar.

Ela disse, quase num sussurro:

— Eu só preciso respirar, entende? Às vezes, o mundo me aperta e eu quero fugir. Fugir até de mim.

Ele respondeu com a voz baixa, envolta em ternura e desejo contido:

— Se um dia fugir, me leva. Nem precisa me dizer pra onde. Só quero ser o vento que sopra teus cabelos e a rede que te segura no meio da queda.

Ela sorriu. Fez carinho na mão dele. Levantou-se, caminhou até a janela e a abriu. O vento invadiu o quarto como uma bênção libertadora. E junto com o vento, entrou algo mais leve, o entendimento silencioso de que o amor verdadeiro não prende. Ele espera, escuta, acolhe.

A Rainha voltou, sentou no colo do Rei, e disse com a boca rente ao ouvido dele:

— Talvez eu precise fugir, sim. Mas é contigo. Com os gatos, os cães, essa casa bagunçada e essa cama sempre desfeita. Quero fugir desse mundo… direto para o teu abraço.

Ele riu, encaixando os braços ao redor dela com firmeza e doçura:

— Então fecha a porta, amor. E deixa a janela aberta. O mundo vai ter que esperar. Aqui dentro, começa agora o capítulo mais bonito da nossa fuga.

E enquanto os animais dormiam aos pés da cama, como fiéis guardiões do afeto, o quarto foi invadido por um silêncio que dizia tudo o que os corpos ainda iriam contar. Porque em Veramor, até as fugas têm sabor de permanência. E até o desejo tem jeito de lar.

A Janela Trancada e a Vontade de Fugir com Ela – Capítulo 41