☥ A Lua Que Se Escondeu – Capítulo XXXVII

A noite caiu como uma cortina grossa de silêncio. Mas havia algo errado. As três luas, fiéis sentinelas dos céus, erguiam-se em seu curso habitual. A quarta, contudo, faltava. A esquecida. A oculta. Aquela de quem os antigos manuscritos apenas sussurravam. A lua que nunca quis nascer.

Liora sentiu o chamado antes que ele se tornasse visível. Era como uma pulsação no fundo do peito, um compasso de ausência. Onde os olhos falhavam, o sangue estremecia. A quarta lua não queria ser vista, mas exigia ser sentida.

Diziam que sua luz não iluminava, mas feria. Que aqueles que a olhassem diretamente jamais voltariam a reconhecer os próprios pensamentos. E que sua sombra, mais do que sua claridade, despertava lembranças de mundos que nunca foram. Ela estava ali, escondida atrás de véus astrais, dobrando o céu ao seu redor para não tocar o olhar dos vivos.

Durante o eclipse das três irmãs, Liora vislumbrou por um instante o contorno da Lua Oculta. Uma forma imóvel, suspensa na negritude do firmamento, onde nenhuma estrela ousava piscar. E naquele segundo, compreendeu o terror que os ancestrais selaram em profecias esquecidas.

A lua que se escondeu não teme o mundo. Ela teme a si mesma.

Sua luz não guia. Sua luz revela.

E há segredos que nem os deuses suportariam ver.

“Nem toda luz quer ser vista.”

A Lua Que Se Escondeu – Capítulo XXXVII