✦ A Mensagem nas Pétalas – Capítulo 32

No cruzamento de duas ruas tranquilas, entre paralelepípedos cobertos por musgos e o som constante de um chafariz antigo, repousava a floricultura mais peculiar que já existira. Era discreta, com uma placa de madeira envelhecida onde se lia “Jasmim e Intuição”. Nenhum letreiro luminoso, nenhuma promoção escrita a giz. Apenas flores. Muitas flores. E um aroma doce que parecia sussurrar memórias esquecidas.

A responsável pelo lugar era uma bruxa de olhos cor de âmbar e cabelos prateados, que preferia ser chamada apenas de Zaira. Todos os dias, bem antes do sol se deitar sobre os telhados da vila, Zaira sussurrava encantamentos muito antigos para as sementes que germinavam em suas mãos. Ao crescerem, essas flores ganhavam uma característica mágica: suas pétalas carregavam mensagens minúsculas, escritas em uma caligrafia tão delicada quanto um sussurro dentro do peito.

Não se tratava de frases aleatórias. Cada flor escolhia a pessoa a quem se dirigia. Um girassol podia entregar uma palavra como “coragem” a alguém prestes a tomar uma decisão difícil. Uma orquídea, quase invisível entre os ramos, podia guardar a frase “você é mais amado do que pensa” e se abrir apenas diante de olhos que choravam em silêncio. Já as violetas, com sua discrição habitual, revelavam conselhos apenas sob a luz do entardecer.

Clientes entravam tímidos, atraídos por algo que não sabiam nomear. Alguns vinham buscar flores para presentear, outros apenas para tocar, por alguns minutos, aquele universo suspenso entre a terra e a alma. Muitos saíam com lágrimas nos olhos, não por tristeza, mas por sentirem-se vistos pela primeira vez em muito tempo.

Certa tarde, uma criança entrou na floricultura. Tinha o olhar inquieto e os bolsos cheios de folhas secas. Zaira observou sem dizer nada, como sempre fazia. A menina se aproximou de uma flor azul-índigo, que parecia tremer levemente quando ela chegou perto. Curiosa, a pequena inclinou-se e leu o que a pétala lhe oferecia: “você não precisa ser forte o tempo todo”.

Os olhos da menina se arregalaram como se tivesse ouvido sua própria alma falar. Ela sorriu pela primeira vez em dias e saiu correndo em direção à rua molhada, segurando aquela única flor como um segredo sagrado.

Naquele lugar, palavras deixavam de ser apenas sons. Eram pontes entre o que se sente e o que se esqueceu de sentir. Zaira sabia que a magia mais poderosa não era feita de explosões ou feitiços grandiosos, mas da escuta atenta. E de pétalas que sabiam exatamente o que dizer, mesmo quando ninguém tinha coragem de perguntar.

Ao final do dia, quando as portas se fechavam, a bruxa caminhava entre os vasos e ouvia, em silêncio, cada mensagem brotar. Ela mesma, de vez em quando, colhia uma flor para si. Porque até quem oferece conselhos do coração, às vezes, precisa recebê-los também.

A Mensagem nas Pétalas – Capítulo 32