A Mesa e o Altar

A cozinha do castelo estava tomada por um perfume doce e envolvente, mistura de especiarias, vinho e tentação. As velas tremeluziam sobre a mesa, espalhando sombras que dançavam nas paredes como cúmplices silenciosas. O Rei, de avental e nada mais, esperava por ela com o olhar de quem sabia que aquele seria um banquete de sentidos, não de alimentos.

Quando a Rainha entrou, o riso escapou-lhe entre surpresa e desejo. A cena era uma provocação feita de pureza e pecado, moldada no limite entre o sagrado e o profano. Ele, com o peito nu, trazia nas mãos uma taça de vinho e um olhar que ardia mais que o fogo sob as panelas. Aproximou-se, oferecendo o cálice como quem convida a um rito antigo, e disse com voz baixa, rouca e firme:

— Hoje o cardápio é simples: tua boca como entrada, teu corpo como prato principal.

A Rainha arqueou uma sobrancelha, fingindo resistência, mas os lábios já tremiam em rendição. Aproximou-se lentamente, deixando o vestido escorregar pelo ombro, revelando o brilho úmido da pele sob a luz amena. O Rei sentiu o mundo parar, cada respiração dela era um feitiço, cada movimento, uma oferenda.

Ele serviu o vinho, mas foi ela quem bebeu dos seus lábios. O sabor era misto de uva e promessa. As mãos dele deslizaram por sua cintura com a precisão de um artista que conhece cada linha de sua obra. A cozinha, antes território de receitas e panelas, transformou-se em altar.

Do canto, Luzia observava tudo com olhos curiosos, ronronando diante do calor que se espalhava. Bravus, mais reservado, apenas ergueu a cabeça e voltou a dormir, como quem já conhece os segredos daquele amor e prefere respeitar o ritual.

A Rainha, sentada sobre a mesa, olhou-o com doçura e poder. Era ela quem governava, mesmo quando se deixava dominar. O Rei sabia disso, e por isso a honrava em cada toque, em cada gesto que não pedia, mas venerava.

Ali, entre o aroma do vinho e o som da respiração entrecortada, não havia fome nem sede que não fossem um pelo outro. E quando finalmente se entregaram, o castelo pareceu suspender-se no tempo, como se o próprio Reino de Veramor parasse para testemunhar o banquete que apenas o amor verdadeiro sabe preparar.