A Noite da Praia

Lucas sente o chamado irresistível da memória e, em poucos instantes, está novamente naquela noite em que o mar parecia guardar segredos que apenas eles dois poderiam ouvir. A praia estava silenciosa, iluminada pela lua que refletia em ondas prateadas, e Helena caminhava ao seu lado com passos leves, deixando pegadas que logo eram apagadas pela água que vinha e voltava.

Ele recorda cada detalhe com uma intensidade nova: o som das conchas quebrando sob seus pés, o cheiro salgado do vento, o frio suave que o fazia desejar aproximar-se ainda mais dela. Helena falava sobre seus sonhos, sobre o medo de não conseguir ser fiel ao que realmente queria da vida, e Lucas, naquela noite, havia respondido com palavras hesitantes, que não refletiam sua verdadeira vontade.

Agora, diante da chance de refazer a cena, ele muda o tom. Em vez de se esconder atrás de silêncios e frases vagas, confessa sua admiração pela coragem dela, afirma que sempre acreditou em sua força e que desejava estar ao lado dela em cada conquista. As palavras saem com firmeza, diferentes das que dissera antes.

Helena o olha com surpresa, como se algo tivesse realmente se alterado. O brilho nos olhos dela parece durar mais do que da primeira vez, e Lucas sente que aquele instante pode estar se expandindo, como se o destino vacilasse por um segundo. Ele segura a mão dela, desejando que esse gesto fosse suficiente para quebrar a inevitabilidade que o separava dela.

Mas quando a noite termina e ele retorna ao presente, a incerteza permanece. O quadro mudou um detalhe mínimo, quase imperceptível, mas ainda não era o suficiente. Lucas entende que cada memória exige coragem renovada, e que o preço de mexer com o tempo é sempre o peso da dúvida sobre até onde pode ir sem perder tudo.