A Pintura que Sussurra – Capítulo 13

“Quando a imagem ganha voz, é porque o silêncio cedeu ao chamado da lembrança.”

A sala secreta parecia ter mudado desde a última vez. Os desenhos nas paredes, todos com a mão estendida, pareciam mais vívidos, como se a própria tinta ainda estivesse fresca. Havia uma vibração no ar, como se algo aguardasse o momento exato para se revelar.

Foi então que Clara ouviu.

No início, pensou ser apenas o som abafado do vento se infiltrando pelas frestas. Mas o sussurro era mais nítido, mais íntimo. Vinha de um dos quadros, um que antes ela mal havia notado, um retrato quase monocromático, encoberto por sombras, pendurado no canto da sala.

Aproximou-se lentamente.

O som aumentou.

— Clara… — sussurrou a voz. Era baixa, quase inaudível, mas carregava algo familiar, como se ecoasse das paredes de sua própria memória.

Ela parou diante do quadro. Não havia nenhuma figura clara nele. Apenas formas abstratas, pinceladas circulares, como um turbilhão prestes a tomar forma. Mas o som vinha dali.

E então, mais palavras:

— Clara, meminisse est vivere.

Ela repetiu em voz baixa, tentando entender:
“Meminisse est vivere.”
Lembrar é viver.

O quadro pareceu responder à sua pronúncia. As formas abstratas pulsaram, e por um breve instante, um olho entreaberto surgiu no centro da tela, como se alguém do outro lado estivesse tentando enxergar o mundo dela.

Clara recuou um passo, o coração disparado.

Não era apenas arte. Não era apenas memória. Aquela pintura ouvia, falava, e talvez observasse.

E, ao fundo, ecoando como um pensamento que não lhe pertencia:

“Você já esteve aqui antes. Só não lembra ainda.”

O sussurro cessou.

Mas a inquietação, essa, só crescia.

A Pintura que Sussurra – Capítulo 13