✦ A Ponte da Palavra – Capítulo 18

Na praça central da cidade, entre feiras e coretos, há um banco de pedra onde todos sentam com algum tipo de silêncio atravessado na garganta. É ali que vive e trabalha Helena, uma bruxa da escuta e da expressão. Ela não tem loja nem consultório. Sua ferramenta é a escuta gentil, seu dom é transformar aquilo que foi calado por muito tempo em algo que possa ser ouvido sem ferir.

As pessoas chegam a ela com olhos baixos e mãos inquietas. Casais que não se olham mais. Mães e filhas separadas por décadas de orgulho. Irmãos silenciados por mágoas antigas. Ela escuta sem pressa, como se o tempo se curvasse para que cada pausa ganhasse valor. E então, entre um olhar e outro, ela traduz. Com suavidade, com precisão. Não o que foi dito — mas o que o coração tentou comunicar.

Em suas mãos, pequenas fitas coloridas se entrelaçam como símbolos do que foi reconstruído. Ela não precisa de feitiços complexos, apenas da coragem de dar nome ao que tanto medo causou. Quando a conversa termina, as pessoas raramente dizem obrigado. Elas apenas respiram mais fundo. Caminham juntas, mesmo que ainda em silêncio — mas agora, um silêncio mais leve.

Helena permanece ali, escutando o mundo, sendo ponte entre palavras e corações.
Porque às vezes, a maior magia é fazer com que um “eu não sei como dizer” se transforme em “agora eu entendo você”.

A Ponte da Palavra – Capítulo 18