✦ A Ponte Entre os Dois Mundos – Capítulo 10

A floresta se adensava conforme Maíra seguia os sinais deixados pelos antigos. Nenhuma trilha clara se abria diante de seus pés, mas ela já aprendera que alguns caminhos não são vistos com os olhos. Era preciso sentir. O último destino de sua jornada a levava até a alma do rio, onde repousava a essência de tudo o que ela buscava. Mas entre ela e esse mistério havia uma ponte. E não uma ponte qualquer. Diziam que ela não tinha forma nem madeira, que não era feita de pedra ou cipó, mas de algo mais raro: tempo e verdade.

Durante horas, Maíra andou em silêncio. Seu corpo seguia, mas sua mente flutuava entre lembranças, intuições e promessas. A cada passo, o som da floresta parecia mudar de tom. Os pássaros cessavam o canto, o vento diminuía e até as folhas pareciam conter sua dança.

Foi quando ela chegou a uma clareira banhada por um feixe de sol filtrado entre as copas. Um tronco seco cortava o espaço como se quisesse ligar um lado ao outro, mas desaparecia antes de chegar à outra margem. Maíra parou, sentiu o coração bater mais fundo, como se algo em si a chamasse a ficar imóvel, a escutar com o corpo inteiro.

Ela fechou os olhos.

Ali, entre o som leve da água correndo e a respiração do mundo, uma sensação suave a envolveu. Seu peito, antes apertado pelas exigências da busca, agora se expandia. Uma lembrança de infância veio, de quando andava descalça sobre galhos caídos, sem medo de cair, confiando mais na intenção do que no chão. Abriu os olhos e sorriu.

O tronco começava a brilhar.

Não como fogo, mas como um rastro de luar refletido sobre uma superfície tranquila. Um contorno sutil surgiu no ar. Era uma ponte, mas não uma que se podia explicar. Seus pés tocaram o primeiro trecho, e o chão invisível sustentou seu peso com firmeza. Cada passo parecia confirmar o que o coração já sabia: aquela travessia não era sobre chegar a algum lugar, mas sobre como se caminha até lá.

Maíra atravessou a ponte com a serenidade de quem já compreendeu que a pressa nos torna cegos, e que só quem leva a verdade no peito pode ver o que o mundo esconde dos olhos comuns.

Ao alcançar o outro lado, a ponte desapareceu atrás de si como um sopro de sonho.

E diante dela, pela primeira vez, o rio revelou sua alma.

A Ponte Entre os Dois Mundos – Capítulo 10