A Primeira Tentativa de Encontro

O plano nasceu em meio à esperança e ao medo. Depois de tantas cartas, Clara e Rafael decidiram tentar o impossível: escolher um mesmo dia e uma mesma hora para estarem na varanda. Talvez o tempo, movido pela força das palavras, cedesse e permitisse que seus mundos se cruzassem.

Na sexta-feira combinada, Clara vestiu o casaco mais grosso que tinha e esperou. A montanha estava silenciosa, o céu tingido de cinza. O vento cortava-lhe o rosto e fazia o cabelo dançar diante dos olhos, mas ela não se moveu. Sentia o coração pulsar como se fosse possível ouvir o som de outro tempo misturando-se ao seu.

Minutos se arrastaram em um vazio quase sagrado. Nenhum sinal, nenhuma presença. Apenas o eco distante de algo que parecia existir logo além do alcance dos sentidos. Quando o frio se tornou insuportável, Clara entrou e sentou-se diante da lareira, com lágrimas secas no rosto e o corpo inteiro tomado por uma saudade sem nome.

Na semana seguinte, encontrou a carta dele. Rafael escrevia que também estivera na varanda, no mesmo horário, sentindo o vento e esperando por ela. Jurava ter ouvido um leve som de passos e o farfalhar de uma manta sendo ajustada sobre os ombros, mas nada viu.

A frustração que se instalou em ambos não apagou o desejo. Pelo contrário, tornou-o mais intenso, como se o fracasso tivesse apenas reforçado o quanto precisavam romper o véu que os separava. O impossível deixava de ser obstáculo e se tornava promessa.