A Tarde de Relatórios e Carícias – Capítulo 47

A tarde avançava silenciosa no Reino de Veramor. O céu nublado lá fora contrastava com o brilho suave que vinha do escritório real. A Rainha estava mergulhada em gráficos e planilhas, digitando com precisão e leveza, como se suas mãos também escrevessem poesia no teclado. Os dois gatos dormiam enroscados sobre os livros empilhados no canto da sala, enquanto os cães trocavam olhares cúmplices, como quem guarda segredos dos humanos.

O Rei passou em silêncio pelo corredor, observando sua Deusa de longe. Ela franzia a testa, concentrada, a boca levemente entreaberta, completamente envolta nas demandas do dia. Sem interromper, ele voltou à cozinha e preparou um café com o mesmo esmero com que se faz um presente.

Colocou a xícara ao lado do teclado com delicadeza. Ao lado, um bilhete: “Nem o relatório mais urgente merece competir com a beleza da tua nuca.” E antes que ela pudesse reagir, o Rei se aproximou devagar, afundou os lábios no pescoço da Rainha e deixou ali um beijo demorado, morno e repleto de intenção.

Ela não se virou. Não precisava. Apenas sorriu no canto dos lábios e continuou digitando, embora os dedos já não acompanhassem o mesmo ritmo de antes.

Com um suspiro contido, murmurou para o vazio que agora ardia de presença:

Esse relatório vai atrasar… e a culpa vai ter o teu nome.

O Rei apenas se recostou na porta, satisfeito. Porque naquela tarde, nem os prazos, nem as demandas, nem os dados da planilha eram mais importantes do que ela se lembrar, de novo, do quanto era desejada.

A Tarde de Relatórios e Carícias – Capítulo 47