A Tarefa que Ninguém Queria

No Reino de Veramor, havia dias em que até a realeza precisava enfrentar tarefas pouco nobres. O botijão vazio esperava por troca, a caixa d’água reclamava por limpeza e o forro pedia a vassoura que levantava mais poeira do que ordem. A Rainha suspirava com delicada ironia, enquanto o Rei, de mangas arregaçadas, tentava transformar o peso da obrigação em riso compartilhado.

As reclamações surgiam, mas sempre entremeadas de olhares cheios de cumplicidade. Luzia e Nilo, curiosos, observavam a cada movimento, como se tentassem decifrar por que seus humanos se envolviam em aventuras tão estranhas. Lórien e Bravus, por sua vez, latiam e abanavam o rabo, transformando o ambiente em um verdadeiro espetáculo de desordem alegre.

Entre o pó, a água e a bagunça inevitável, o Rei não resistiu à beleza da Rainha, que até de vassoura em mãos parecia comandar o mundo. Aproximou-se por trás, tomou-a pela cintura e sussurrou palavras que fizeram sua pele estremecer. Ela, rindo e ruborizada, revidou com um olhar sedutor que não precisava de palavras. O beijo veio no meio da sujeira, roubando da rotina uma chama ardente.

O instante, aparentemente banal, ganhou contornos de eternidade. Ali, no improviso de uma faxina transformada em festa, havia mais do que risos: havia desejo, havia ternura, havia a certeza de que até as tarefas mais ingratas se tornavam poesia quando guiadas pelo amor.

E, no final, quando o cansaço pesava nos ombros, o Rei a olhou nos olhos e declarou com voz firme e doce: quando o amor lidera, até faxina vira romance.