A Última Escolha

O dia amanheceu com a mesma luz dourada que ele lembrava. A praia estava viva com o som do mar, o vento suave agitava as ondas e o riso de Helena se espalhava pelo ar como uma melodia. Lucas caminhava ao lado dela, revivendo um dos momentos mais plenos que haviam compartilhado, um instante em que nada parecia faltar.

Enquanto observava cada detalhe, o coração pesava com a consciência de que aquela memória não era apenas lembrança, mas também uma encruzilhada. Ele sabia que poderia mudar algo, que poderia plantar palavras diferentes, gestos distintos, escolhas capazes de alterar tudo o que viria depois. A tentação de interferir era intensa, quase irresistível, mas junto dela vinha a sombra da dúvida.

Lucas compreendeu, então, que cada mudança feita no passado não era apenas um ajuste nos caminhos de Helena, mas também uma alteração em sua própria essência. O homem que ele era agora existia justamente porque havia errado, perdido e aprendido. Se refizesse aquele dia perfeito, talvez o sorriso dela permanecesse, mas parte de si se perderia na corrente do tempo.

Helena o olhava com os olhos cheios de brilho, sem saber da batalha silenciosa que ele travava dentro de si. O instante se prolongava como se o tempo aguardasse sua decisão. A mão dela, leve e próxima, parecia pedir um gesto, mas Lucas manteve-se firme, deixando que o momento se encerrasse exatamente como havia acontecido.

A aceitação caiu sobre ele como uma onda calma. Não precisava mudar o passado para preservar o que realmente importava. O valor estava em viver aquele instante com clareza, em entender que o amor não se mede pelo que poderia ter sido, mas pelo que permanece mesmo nas perdas.

Ao despertar de volta em sua própria vida, Lucas respirou fundo. A escolha havia sido feita. Ele não mudaria a lembrança. Escolheria, em vez disso, carregar consigo a verdade de que alguns momentos são perfeitos justamente porque não podem ser alterados.