A Última Moldura Vazia – Capítulo 44

No fim da tarde, Clara percorreu lentamente os corredores da casa, agora transformados em uma galeria silenciosa. As molduras que antes estavam vazias ou cobertas por panos pesados agora exibiam imagens vívidas, como se a própria memória da casa tivesse despertado. Pinturas que narravam a vida de Elias em fragmentos: a infância solitária, os primeiros esboços, o olhar perdido diante do espelho, a presença invisível que o inspirava e assombrava.

Cada quadro parecia mais vivo do que pintado. Alguns mudavam sutilmente sob a luz. Outros tinham detalhes que não estavam ali no dia anterior. Clara sentia que a casa não apenas lembrava, mas também reescrevia partes da história enquanto ela caminhava.

No final do corredor do andar superior, porém, havia uma moldura que destoava de todas as outras.

Era a única ainda vazia.

A moldura dourada tinha ornamentos finos, delicadamente esculpidos, como se tivesse sido preparada para algo especial. Dentro dela, apenas um fundo branco levemente amarelado pelo tempo. Nenhuma imagem. Nenhuma cor. Apenas uma inscrição escrita à mão no canto inferior.

O Reencontro

Clara permaneceu parada diante da moldura por um longo tempo. O título parecia chamá-la por dentro, como se fosse menos um nome e mais um destino. Sentia o peito apertado por uma ansiedade que não era medo, mas expectativa. Algo ainda estava por acontecer. Algo que talvez não pudesse ser pintado por mãos comuns.

Ali, naquela ausência de imagem, havia um espaço reservado.

E Clara compreendeu.

A última moldura não estava vazia por acaso.

Ela estava esperando.

E a imagem que faltava talvez só pudesse ser revelada quando as mãos finalmente se tocassem.

A Última Moldura Vazia – Capítulo 44