✦ A Última Raiz da Árvore Sem Nome – Capítulo 15

O caminho de volta à árvore milenar era diferente. As pedras pareciam sussurrar orações antigas e as folhas, que outrora apenas balançavam, agora dançavam em círculos precisos ao redor de Maíra. Ela caminhava como quem retorna a um templo, não com pressa, mas com reverência. Cada passo era um chamado e uma resposta, como se a própria terra soubesse que o momento havia chegado.

A árvore estava lá, imensa e silenciosa, com seu tronco entrelaçado em séculos de existência. Maíra se aproximou com o coração calmo, mas atento. Nenhuma palavra foi dita, porque naquele lugar o silêncio era a única linguagem necessária. Ela se ajoelhou junto às raízes e então a viu. Uma delas pulsava, discretamente, como um coração enterrado no tempo.

Ao tocar a raiz, uma onda quente percorreu seu corpo. Não era dor, nem espanto. Era reconhecimento. Aquela raiz não alimentava apenas a árvore — ela nutria o próprio rio, as montanhas, os ventos e todas as memórias que vinham antes do primeiro nome ser pronunciado.

Imagens atravessaram os olhos de Maíra como visões sem tempo. O nascimento da primeira nascente. Os cantos entoados quando a água era descoberta. As mãos que esculpiram os artefatos com devoção. As palavras que não eram ditas em voz alta, mas impressas em gestos, olhares e silêncio. E, por fim, o esquecimento — quando tudo foi enterrado sob camadas de ruído e pressa.

Mas agora, diante daquela raiz viva, o esquecimento se tornava fértil. Era o solo perfeito para o renascimento da lembrança. Maíra compreendeu que cada artefato era um fragmento de um coração maior. Um coração que agora pulsava sob suas mãos, sob a terra, sob a árvore que nunca teve nome porque o nome dela era todos.

A raiz brilhou por um breve instante. Depois, voltou à quietude, como se dissesse que a missão havia sido cumprida. Maíra fechou os olhos, respirou fundo e sentiu que o ciclo estava completo.

Não era o fim da história.

Era o início daquilo que jamais deveria ter sido esquecido.

A Última Raiz da Árvore Sem Nome – Capítulo 15