⟁  A Última Roda – Capítulo XIX

As árvores antigas inclinaram-se quando os ventos começaram a soprar em círculos. No coração de um vale há muito apagado dos mapas, os tambores soaram por vontade própria. A terra, inquieta, exalava vapores frios de um tempo em que as bruxas comandavam os ritmos do mundo com os pés descalços e olhos cheios de tempestade.

Ali, o solo revelou uma estrutura ancestral: uma roda esculpida em pedra negra, com nove marcas rúnicas ao redor. O chamado era claro para aquelas que ainda guardavam os ecos do primeiro pacto. Uma a uma, vieram. Velhas, jovens, vivas e quase-mortas. Nenhuma delas sabia quem convocara o rito — mas todas sabiam por quê: a última roda havia despertado.

Oitenta luas haviam passado desde a última conjuração, e as bruxas sabiam que a roda não girava em vão. Cada lugar ao redor do círculo exigia um sacrifício: memória, tempo, poder, alma. Com cada sentada, a roda chorava faíscas invisíveis, aquecendo o tecido do real. Mas quando a oitava se sentou, o vento parou.

O nono lugar permanecia vazio. Nenhuma ousava ocupar. Havia uma profecia que falava daquele assento: se preenchido sem merecimento, a roda se voltaria contra o mundo. Se ignorado por tempo demais, o ciclo de proteção se desfaria. Então, o que restava era o impasse — o tempo suspenso entre o fim de um mundo e o nascimento de outro.

Liora, presente pela primeira vez numa roda tão antiga, sentia o peso do vácuo que a nona pedra representava. E sentiu também o olhar das outras sobre ela. Mas não se moveu. Ainda não.

“A roda gira. Quem não souber cair será esmagado.”

A Última Roda – Capítulo XIX