A Vassoura e o Desejo – Adendo

No Reino de Veramor, até a faxina tem poesia. E sedução.

Era um dia comum, ou quase. O Rei, com sua vassoura de cabo de madeira e uma leve dor nas costas que denunciava a falta de alongamento real, varria folhas secas do jardim como quem recolhe lembranças. Algumas folhas vinham com cheiro de outono, outras pareciam suspirar o nome da Rainha.

Enquanto isso, no interior do palácio, ela, Rainha, Deusa, Loira Linda, combatia bravamente uma infiltração ancestral no banheiro do salão das juras eternas. Luvas amarelas nas mãos, secador de parede na tomada, e uma ária de ópera entoada em tom dramático ecoava pelos corredores.

O Rei, ao cruzar a porta, parou. O sol bateu na água escorrendo pelo azulejo, mas o brilho estava nela.

Ele apoiou-se na vassoura como quem segura o próprio desejo com educação, e disse com a reverência de um poeta cansado:
— “Se fosse pecado te desejar com essa roupa de faxina, eu pecaria com gosto… e limpava depois.”

A Rainha riu, com um olhar que sabia exatamente o estrago que causava. Piscou como quem dança com os olhos e respondeu, com um sopro de perfume e malícia:
— “Sou tua bagunça preferida, meu Rei. E teu castigo mais doce.”

E assim, entre respingos de desinfetante e olhares que não precisavam ser varridos, o amor seguia reinando no Reino de Veramor — com rodos, trapos e suspiros escondidos nos cantos limpos da casa.

A Vassoura e o Desejo – Adendo

Brasão Reino de Veramor

V&R
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