A Voz de Dentro da Mão – Capítulo 42

A sala secreta estava mergulhada em penumbra quando Clara voltou a ela, horas depois de encarar o círculo quebrado. O silêncio era tão espesso que parecia uma presença. O ar estava parado, carregado de algo que ela não sabia nomear, como se cada objeto ali contivesse um pensamento à beira de ser dito.

No centro da sala, repousava uma escultura que antes não estava ali. Era uma mão, feita de um material que parecia cera ou osso polido, posicionada com os dedos levemente curvados, como se aguardasse por algo. Clara aproximou-se sem pressa, sentindo uma pulsação discreta no ar ao redor da peça.

Quando seus dedos tocaram a palma da escultura, uma vibração sutil percorreu seu braço. E então ouviu.

Uma voz.

Baixa. Interior. Não atravessava o ar, mas surgia de dentro do próprio objeto, e ao mesmo tempo, de dentro dela.

A voz disse:

O que foi separado, quer voltar a ser um.

Clara recuou, trêmula. A mão continuava imóvel. Mas havia algo em sua forma que parecia mais viva do que estático. Como se guardasse lembranças de um gesto interrompido. Ela olhou ao redor, esperando que a voz se repetisse, mas nada mais veio.

A frase, no entanto, ressoava como uma chave girando dentro de sua mente.

O que foi separado. Elias e Lisbeth. Passado e presente. Corpo e memória. Ela e ela mesma.

Clara ajoelhou-se diante da escultura. Pela primeira vez não se sentiu uma visitante ali. Sentiu-se parte de algo que existia muito antes de sua chegada, mas que precisava da sua presença para se completar.

O que foi separado. Ela sabia agora. Não era só uma história de amor. Era uma história dividida em dois corpos, duas épocas, dois silêncios que ansiavam por se tocar.

E tudo começava a girar de novo ao redor daquela mão.

Não era mais uma escultura.

Era um chamado.

A Voz de Dentro da Mão – Capítulo 42