✦ Amuletos para os que Partem – Capítulo 10

Na beira de uma rua de paralelepípedos, quase escondida entre uma livraria antiga e um café com cheiro de canela, existe uma pequena loja chamada Corações em Trânsito. A vitrine é modesta, decorada com ramos de lavanda seca, pequenos sinos e fitas coloridas que dançam com o vento. Ali, vive e trabalha Helena, uma bruxa de olhos calmos e mãos precisas, que dedica seus dias a criar pequenos amuletos para os que estão prestes a partir.

Ela os chama de fios de coragem. São pequenas peças feitas à mão, com sementes, pedras, símbolos antigos e um toque secreto de ervas aromáticas que só ela sabe misturar. Cada um tem uma intenção clara: proteger, orientar e lembrar a quem o carrega que há sempre um caminho de volta — mesmo que o destino seja o desconhecido.

Alguns procuram Helena antes de embarcar em uma nova cidade, um novo amor ou um novo trabalho. Outros chegam em silêncio, com os olhos baixos, buscando forças para seguir após uma perda, uma despedida, um fim que ainda dói. Para cada um deles, a bruxa escuta. Sempre escuta primeiro. Nunca apressa. Depois, com um fio de linho, uma folha de arruda e um pingo de mel no centro do tecido, ela começa a criar.

Há amuletos para aqueles que partem fisicamente, com malas prontas e passagens compradas. Mas há também os que viajam para dentro de si, enfrentando tempestades emocionais ou recomeços invisíveis. Para todos, o gesto de Helena é o mesmo: mãos suaves, respiração tranquila, olhos fechados enquanto sussurra uma bênção que ninguém ouve, mas todos sentem.

Quando o amuleto está pronto, ela entrega com um sorriso sereno. Não diz boa sorte. Diz apenas: vá. Vá com o que é seu. E volte quando for hora.

Alguns voltam. Outros escrevem cartas. Alguns deixam bilhetes presos na porta da loja com flores secas e palavras como “obrigado”, “cheguei bem”, “comecei de novo”.

E assim, Helena continua, dia após dia, criando pequenos mapas de proteção para almas em movimento. Porque ela sabe que todo fim é um começo disfarçado — e que todo viajante, em algum momento, precisa de algo que lembre que não está sozinho.

Amuletos para os que Partem – Capítulo 10