As Cartas que Chegam Sem Remetente – Capítulo 40

As Cartas que Chegam Sem Remetente. No coração de um vilarejo tranquilo, havia uma pequena agência dos correios que parecia ter parado

✦ As Cartas que Chegam Sem Remetente – Capítulo 40

No coração de um vilarejo tranquilo, havia uma pequena agência dos correios que parecia ter parado no tempo. As paredes eram cobertas de estantes antigas com selos encantados e tinteiros que nunca secavam. Atrás do balcão, entre carimbos e papéis de cores suaves, trabalhava uma bruxa de olhos atentos e mãos calmas, conhecida apenas como a Carteira do Vento. Ela não tinha sobrenome nem endereço fixo. Era como se tivesse surgido ali junto com a própria vontade de acreditar no invisível.

Todas as noites, após o último carteiro deixar o local, ela acendia uma vela feita de cera de mel e ervas secas. Ao lado, repousava uma pilha de papéis em branco. A bruxa fechava os olhos por alguns minutos, inspirava fundo e começava a escrever. Não eram cartas comuns. As palavras simplesmente vinham, como se sopradas por almas distantes. Às vezes doces, às vezes firmes, mas sempre certeiras. Eram cartas que diziam exatamente o que alguém precisava ouvir, mesmo que esse alguém ainda não soubesse disso.

Em uma delas, um jovem solitário lia: “O mundo ainda não conheceu o que você guarda em silêncio. Mas há força aí dentro. Não desista agora.” Em outra, uma mãe em luto encontrava: “O amor não desaparece com o tempo. Ele só muda de forma e encontra outras maneiras de estar presente.” Nenhuma carta trazia nome de remetente. Apenas um selo em forma de estrela dourada e um leve perfume de alecrim e papel envelhecido.

Essas cartas chegavam de forma misteriosa. Podiam aparecer na caixa de correio, embaixo da porta, dentro de um livro esquecido no banco da praça. E sempre no momento exato em que a alma de quem recebia já estava prestes a desmoronar.

Não havia publicidade nem reconhecimento. A bruxa postal não buscava aplausos. Ela sabia que a magia mais poderosa é aquela que reacende a esperança no escuro. A cada carta entregue, uma semente invisível era plantada no coração de alguém. E mesmo sem nome, sem endereço e sem data, aquelas cartas transformavam o destino de quem ousava abrir o envelope e acreditar que, em algum lugar, alguém ainda tinha fé em sua jornada.

Enquanto o mundo continuava girando em sua pressa, aquela bruxa seguia silenciosa, escrevendo com a alma e enviando pequenos lembretes de que ninguém está totalmente sozinho quando se sente visto, mesmo que por uma carta sem remetente.

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