As Orquídeas da Fé – Capítulo 165

Reino de Veramor nova capa

As Orquídeas da Fé

O jardim de Veramor estava silencioso quando o Rei se ajoelhou diante do pequeno espaço de terra escolhido para o novo canteiro. A manhã nascia com um brilho suave, e o ar carregava uma leveza que parecia abençoar cada gesto. Nas mãos dele, repousavam mudas de orquídeas raras, flores que sempre foram símbolo de delicadeza, resistência e renascimento. Ele as segurava com cuidado profundo, como se cada uma guardasse um fragmento da esperança que mantinha viva pela saúde da Rainha.

Ao tocar a terra, o Rei sentiu uma conexão antiga, quase sagrada. Cavou com calma, respeitando o ritmo do solo, permitindo que a natureza guiasse seus movimentos. Cada muda plantada representava um dia de amor, um dia oferecido à fé, um dia dedicado ao desejo silencioso de que a Rainha despertasse mais forte. Ele sabia que a cura não se apressa, assim como uma orquídea não floresce antes do tempo. Era preciso paciência, devoção e presença.

Nilo observava tudo a poucos passos de distância, sentado sobre a relva ainda úmida do orvalho. Seus olhos acompanhavam cada gesto do Rei, e havia no olhar do menino uma compreensão silenciosa. Ele sabia que aquele ato não era apenas jardinagem. Era uma oração feita com as mãos, um pedido que brotava de dentro do coração e se tornava flor.

Ícaro, próximo ao muro coberto de trepadeiras, começou a cantar. Sua voz novamente se ergueu como um sopro doce, um canto simples que parecia carregar o espírito do próprio jardim. A melodia se misturava ao som das folhas movidas pelo vento, transformando o espaço num pequeno templo ao ar livre. O canto de Ícaro fazia o ar vibrar com suavidade, como se chamasse a vida para perto daquelas flores recém-plantadas.

Lórien permanecia ao lado, em silêncio profundo. Sua presença era firme, quase imaterial, como se fizesse parte do próprio ar. Observava o Rei com respeito reverente, consciente de que aquele instante ultrapassava palavras. Era um momento onde o espiritual se manifestava no gesto mais humano e simples: plantar com fé.

Quando o Rei depositou a última orquídea no solo, pousou as mãos sobre a terra, fechou os olhos e deixou que sua respiração se unisse aos sons do jardim. Sentiu o pulsar do mundo abaixo de seus dedos, sentiu o perfume leve das flores abertas ao redor, sentiu o canto de Ícaro como um fio de luz atravessando tudo. Em silêncio absoluto, agradeceu. Agradeceu pelo dia, pela força da Rainha, pelo amor que mantinha todos eles unidos. Agradeceu pela fé que ainda queimava dentro dele, firme e discreta como a raiz de uma orquídea.

As brisas da manhã tocaram as pétalas recém-despertas, e o jardim pareceu responder ao gesto do Rei com seu próprio tipo de bênção. As orquídeas pareciam prometer olhar pelos dias que viriam, guardando em cada cor e cada textura a esperança que ele plantara ali com as próprias mãos.

Nilo se aproximou devagar, Ícaro continuou cantando e Lórien permaneceu imóvel, todos unidos pela mesma energia serena. O canteiro recém-formado se tornou um altar silencioso dentro de Veramor, um espaço onde o amor ganhava forma viva, onde a fé florescia do jeito mais simples e mais profundo.

E naquele instante, o Rei compreendeu que as orquídeas não eram apenas flores. Eram guardiãs de dias melhores. Eram pequenos milagres à espera de luz. Eram a própria promessa de que, no tempo certo, tudo que é cuidado com amor volta a florescer.

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