✦ As Sementes do Inesperado

A bruxa chegou sem ser anunciada, caminhando pela rua principal como quem conhece cada pedra do caminho, embora ninguém se lembrasse de tê-la visto antes. Carregava um cesto de vime coberto por um pano verde-escuro, e havia em seu olhar a paciência de quem sabe que certas coisas só florescem no tempo certo.

Quando parou na praça, descobriu o cesto. Dentro dele, repousavam sementes diferentes de qualquer outra já vista. Algumas pareciam conter fragmentos de estrelas; outras, mudavam de cor ao menor movimento; e havia aquelas que pulsavam lentamente, como se guardassem um coração vivo.

A bruxa não pedia nada em troca. Apenas entregava uma ou duas sementes a cada pessoa que se aproximava, mas não antes de fitá-la longamente, como se buscasse ler algo que nem o próprio dono dos olhos sabia que carregava. Sua única instrução era simples e desconcertante: plante onde ninguém mais plantaria. Não explicava o porquê, não dizia o que brotaria, e tampouco orientava sobre cuidados. Apenas deixava as sementes nas mãos, como quem deposita um segredo.

Alguns as deixaram esquecidas em gavetas, julgando tratar-se de um truque ou lembrança sem valor. Outros, movidos por um sopro de curiosidade, procuraram lugares improváveis: fendas esquecidas em muros, margens inóspitas de rios caudalosos, clareiras sombrias onde nada parecia resistir. Houve quem as enterrasse no solo duro de um quintal abandonado, onde nem mesmo ervas daninhas cresciam.

O que aconteceu depois parecia seguir leis que nenhum jardineiro conhecia. Do muro esquecido nasceu uma trepadeira com flores que, ao toque, mostravam lembranças perdidas. À beira do rio, surgiu uma planta cujas pétalas, ao balançar, sussurravam palavras de coragem. No quintal árido, ergueu-se uma árvore cujos frutos, ao serem provados, traziam a quem os comia a clareza para recomeçar a própria vida.

Ninguém descobriu a origem das sementes, nem por que a bruxa as distribuía. Mas os que seguiram sua orientação entenderam algo que não podia ser dito em palavras: plantar onde ninguém mais plantaria não era apenas um ato de cultivo, era um gesto de fé. Era acreditar que até nos lugares mais esquecidos pela esperança, algo extraordinário podia nascer.

De tempos em tempos, a névoa voltava a cobrir a vila. E, no silêncio difuso que ela trazia, alguns juravam ver a silhueta da bruxa novamente, com outro cesto no braço, como se estivesse semeando não apenas plantas, mas também coragem nos corações dispostos a tentar.