✦ As Velas que Guardam Segredos – Capítulo 7 

No ateliê de Marina, o silêncio é quase sagrado. Em meio a prateleiras de madeira cheias de vidros com ervas secas, cristais translúcidos e papéis envelhecidos por rezas antigas, há uma mesa central onde as velas nascem. Cada uma é moldada com cera artesanal, óleos essenciais e pequenos fragmentos de pétalas, folhas e lembranças. Mas não é isso que as torna especiais.

Quem entra naquele espaço sente que não está sozinho. Marina não faz perguntas. Apenas oferece um olhar tranquilo e indica uma vela a ser escolhida. Às vezes, o cliente hesita. Outras vezes, as mãos vão direto à chama certa como se fossem guiadas por um fio invisível. Cada vela, quando acesa, brilha com uma cor única. Azul pálido para consolos antigos, vermelho profundo para amores feridos, dourado leve para esperanças renascidas. Mas, acima de tudo, elas escutam.

Na penumbra morna do ateliê, Marina senta-se próxima às velas acesas e fecha os olhos. É quando os sussurros começam. As velas falam. Não em palavras claras, mas em pulsações sutis, como o som de um coração desacelerando depois de muito chorar. Elas guardam segredos que os donos nem sempre sabiam carregar. E aos poucos, conforme derretem, libertam o que estava preso no silêncio.

Ela não precisa tocar em ninguém. Apenas fica. E a presença dela sustenta aquilo que é dito sem ser falado. Quando a chama se apaga por completo, Marina sabe: mais uma dor encontrou seu caminho para fora. E mais uma alma poderá dormir em paz naquela noite.

No ateliê das velas que guardam segredos, a cura começa no que ninguém ousou dizer. E termina no brilho suave de uma chama que ouviu, e compreendeu.

As Velas que Guardam Segredos – Capítulo 7