✦ Cabelos que Curam – Capítulo 34

Na pequena sala iluminada por velas aromáticas e cristais pendurados no alto, a bruxa-cabeleireira preparava sua tesoura como quem prepara uma oferenda. O espelho emoldurado por ramos de lavanda refletia não só rostos, mas histórias inteiras pedindo para ser transformadas. As pessoas não vinham apenas cortar o cabelo. Vinham deixar o que já não precisavam carregar.

Ela sorria com leveza, perguntava pouco, escutava muito. Suas mãos sabiam exatamente o que fazer. O som das lâminas cortando o silêncio era quase um sussurro, como se cada fio retirado contasse algo que precisava ir embora. Havia quem chegasse com os ombros curvados, olhos baixos e voz trêmula. Mas ao sair, os olhos brilhavam com outro ar, como se o vento já não precisasse empurrar tanto para que a alma respirasse.

Cada fio caía no chão como folha seca que finalmente aceitava seu tempo. E quando a bruxa abria a janela e varria os restos para fora, o vento os levava como se soubesse o caminho exato para dissolver mágoas, culpas, promessas não cumpridas. Era bonito de ver: os cabelos dançando no ar, libertos, levando embora lembranças que pesavam.

Alguns clientes choravam sem saber por quê. Outros riam feito crianças. Havia também quem simplesmente agradecesse em silêncio. Todos, sem exceção, saíam diferentes. A magia não estava apenas nas palavras ou nas ervas que ela deixava ferver discretamente no canto do salão. Estava no gesto, na intenção, na escuta.

A cabeleireira-bruxa acreditava que recomeçar era um rito, e que os cabelos guardam parte do que vivemos. Cortá-los era como abrir uma janela para o futuro. E ela, com sua tesoura encantada e coração atento, ajudava cada um a encontrar um pouco mais de si mesmo. Não era apenas um corte. Era um renascimento silencioso.

Cabelos que Curam – Capítulo 34