✦ Chá de Memória Boa – Capítulo 22

No coração pulsante da cidade, entre ruas movimentadas e vitrines espelhadas, existe um pequeno café escondido sob uma antiga figueira. Lá dentro, o tempo parece desacelerar. Cortinas claras balançam com a brisa suave, e o aroma que paira no ar não é de café comum, mas de ervas colhidas com cuidado e intenção.

Catarina é a bruxa que comanda aquele espaço silencioso e mágico. Seus cabelos castanhos ondulam soltos, presos apenas por uma fita de linho azul, e seus olhos carregam uma calma que acalma só de encarar. Ela não pergunta muita coisa. Apenas sorri, indica um assento acolchoado e pergunta baixinho: “Você gostaria de lembrar com carinho?”

Não há cardápio. Cada xícara é única, feita com folhas e flores que respondem ao toque delicado de Catarina. Menta para os risos, alecrim para os dias de sol, lavanda para os abraços antigos. E quando o chá é servido, algo muda. O primeiro gole não traz o sabor, mas uma lembrança. Um cheiro de infância. Um rosto que já se foi. Um momento em que o coração esteve inteiro.

Catarina observa à distância, respeitando o silêncio. Alguns choram de leve. Outros apenas fecham os olhos por alguns minutos e depois sorriem. Há quem volte toda semana, há quem precise apenas uma vez. Porque às vezes, para seguir em frente, é preciso lembrar do que foi bom.

Ela não vende nada. Quando a memória se acomoda no peito, a pessoa deixa a contribuição que desejar numa pequena caixa de madeira, onde está escrito: “O valor da lembrança mora no quanto ela te transforma.”

Ali, naquele café escondido, a magia não grita. Ela sussurra, perfumada e quente, como o vapor que sai da xícara nas mãos de quem decidiu lembrar com ternura.

Chá de Memória Boa – Capítulo 22