✦ Chá para o Coração Partido – Capítulo 2

Na casa de Lara, o aroma doce do alecrim e da camomila dançava no ar. A bruxa jovem, de cabelos dourados presos em uma trança simples, movia-se com delicadeza entre infusões e palavras suaves. Era manhã de sábado, e como de costume, algumas vizinhas mais velhas vinham até sua cozinha em busca de algo mais profundo do que conselhos — vinham em busca de alívio.

Dona Celeste trazia no olhar a saudade do marido que partira há cinco anos. Dona Miriam, o silêncio de uma filha que já não ligava mais. Ambas encontraram na xícara fumegante algo que não sabiam que buscavam: presença.

Lara não fazia promessas nem curas. Apenas ouvia, sorria e escolhia as ervas certas. Lavanda para as mágoas antigas. Melissa para os medos recentes. Um toque de jasmim para relembrar que ainda havia beleza.

— “Esse chá é mágico?” perguntou Miriam, já com a voz menos pesada.

— “Não,” respondeu Lara com um sorriso sereno. “Mas vocês são.”

A cozinha cheia de sol parecia suspensa no tempo. Ali, o mundo não cobrava nada. Ali, o coração partido era acolhido, não consertado, apenas ouvido, compreendido, aquecido.

E quando as senhoras partiram, rindo baixinho como garotas, Lara olhou para o bule vazio e sussurrou:

“É assim que se começa a tecer cura, folha por folha, escuta por escuta.”

Chá para o Coração Partido – Capítulo 2