Curtidas em Horário Estratégico – Capítulo 12

Ninguém nunca ensinou isso numa sala de aula, mas ele aprendeu sozinho, com dedicação de monge e disciplina de agente secreto: seduzir no século XXI exige planejamento digital, conhecimento de algoritmo e, principalmente, saber a hora exata de curtir um post.

Não era só uma curtida. Era a curtida. Aquela que apareceria para ela no topo das notificações, que faria o nome dele piscar como uma mariposa teimosa em volta da lâmpada do subconsciente dela. Discreta, mas inegável. Estratégica, mas com cara de espontânea.

Ele começou observando. Sem alarde, sem print, sem planilhas — embora, se fosse necessário, ele faria. Notou que ela era mais ativa nas redes perto das 13h (talvez na pausa do almoço?) e depois novamente às 21h (seria o momento pós-novela ou pré-sono?). Anotou mentalmente, como quem marca o horário do último trem da estação.

A partir daí, passou a agir com precisão cirúrgica. Ela postava algo? Ele esperava sete minutos. Nem mais, nem menos. Tempo suficiente para parecer que estava apenas rolando o feed, distraído, e encontrou aquele post “por acaso”. Curtia. E saía da rede como quem larga o fósforo aceso e observa de longe o incêndio romântico que esperava causar.

Teve dias em que chegou a configurar alarme. “Publicação dela às 12:56. Curtida às 13:03.” Uma arte que exigia paciência, frieza e resistência à tentação de comentar. Curtir era o suficiente. Curtir era o código silencioso. O ponto e vírgula do flerte moderno.

E se ela curtia algo dele de volta? Ah, era como receber bilhete dobrado em forma de notificação. Um sinal de fumaça digital. Um “oi” sem dizer nada, mas dizendo tudo. O jogo estava on.

Enquanto os outros usavam o algoritmo para vender tênis e aspiradores, ele usava o mesmo sistema para dizer “pensei em você”. Não com palavras, mas com likes cirurgicamente aplicados, em horários milimetricamente planejados.

Era sarcástico e ridículo, ele sabia. Mas também era bonito — esse esforço secreto de quem quer ser visto sem parecer carente, de quem deseja sem gritar, de quem aposta no detalhe, no gesto mínimo, na dança silenciosa dos corações conectados.

No fundo, ele sabia que o algoritmo ajudava, mas era o querer que roteirizava tudo. A conexão? Instável, talvez. Mas o sentimento? Frequência máxima.

Curtidas em Horário Estratégico – Capítulo 12