Ecos no Gravador – Capítulo 7 

Revirando uma das caixas empoeiradas no canto mais escuro do sótão, Clara encontrou um objeto pesado e metálico, envolto em uma manta fina de linho rasgado. Era um gravador antigo, de rolo, com botões enferrujados e o cheiro adormecido de décadas esquecidas. Curiosa, ela limpou cuidadosamente o aparelho e, após alguma luta com os cabos e a eletricidade instável da casa, conseguiu fazê-lo funcionar.

O gravador chiou, crepitou, e então uma fita começou a girar. A voz que emergiu, abafada e tremida, era a de Elias.

— “A arte não é criação, é escavação. Há imagens que nos encontram. Elas vêm de um lugar onde o tempo não é linha, mas espiral…”

Clara ficou paralisada. Era como se Elias estivesse ali, falando apenas para ela.

— “…Lisbeth nunca soube que o toque que não demos abriu outra porta… o encontro que jamais aconteceu continua ecoando… em cada linha, em cada sombra.”

A fita prosseguiu com mais devaneios: sobre pintura, sobre a ausência de cor em certos sonhos, sobre uma “mão que atravessa véus”. Elias parecia falar consigo mesmo, ou talvez com alguém que ele esperava que um dia escutasse.

Mas então, como nas outras fitas, a voz cessava abruptamente. Não havia clique de parada, nem chiado de fim de gravação. Era como se algo interrompesse Elias no exato momento em que ia revelar demais.

Clara rebobinou e ouviu novamente. E outra vez. Sempre o mesmo fim: um corte repentino, um silêncio espesso. Como se o que viesse depois fosse proibido.

Segurando o gravador, Clara encarou o sótão. Pela primeira vez, sentiu que talvez não estivesse sozinha ali em cima. Algo, ou alguém, parecia escutar junto com ela.

Ecos no Gravador – Capítulo 7