Encontro com Daniel – Capítulo 4

Ana estava sentada à beira do cais, observando o mar se dissolver na névoa cinzenta da manhã, quando escutou passos lentos sobre as tábuas úmidas. Virou-se com a expectativa silenciosa de que fosse apenas um pescador local, mas deparou-se com um jovem de olhar atento e postura defensiva, segurando um envelope dobrado e ligeiramente amassado nas mãos. Seus olhos eram sombrios, quase opacos, como se carregassem as memórias de alguém que aprendeu cedo a desconfiar.

O silêncio entre eles foi longo o suficiente para que o vento o preenchesse. Ela se levantou devagar, sentindo a brisa brincar com os fios soltos de seu cabelo, e perguntou com cautela se ele estava perdido. Ele respondeu apenas com um nome: Daniel. E antes que ela dissesse algo, completou com uma frase que fez o coração dela disparar. Era neto de Matteo.

O sangue pareceu abandonar os dedos de Ana por um instante. Quis perguntar se ele sabia das cartas, se reconhecia sua caligrafia, se já lera alguma. Mas o semblante fechado de Daniel parecia dizer que aquele encontro era mais sobre limites do que respostas. Disse apenas que encontrou uma das cartas em uma gaveta antiga da casa da avó e que, por curiosidade, viera ver quem era a moça que procurava por Matteo como se ele ainda estivesse vivo.

Ana agradeceu, mesmo sem saber exatamente pelo quê. O silêncio entre eles, embora desconfortável, continha algo parecido com um início. E antes de ir embora, Daniel lhe entregou o envelope. Nele, mais uma carta. Com a mesma assinatura, o mesmo papel amarelado e a mesma caligrafia impossível que insistia em desmentir o tempo.